Mas o estado atual do planeta não permite. Setembro foi o mês mais quente já registrado. O Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus, da União Europeia, detectou que a temperatura desse mês foi a mais elevada que já se apurou. A temperatura global do mês foi, atipicamente, a mais quente de qualquer ano no conjunto de dados que remonta a 1940.
O setembro de 2023 foi quase dois graus mais quente do que a média para o mês no período pré-industrial, de 1850 a 1900. Não se invoque o “El Niño”. As mudanças climáticas resultam da insensatez dos humanos.
O Brasil continua aparentemente insensível à tragédia. Em outubro o Mato Groso do Sul teve 147 focos de incêndio, grande parte deles no pantanal. Os quatro municípios do Estado que integram o bioma estão na lista de incidência de fotos com alto risco. Alerta máximo para os brigadistas.
O Inpe – Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais anuncia que o número de focos de incêndio em MS já é mais do que o triplo do registrado em igual período do mês de setembro último. No dia 18 de setembro de 2023, um incêndio devastou área de 500 hectares em Bonito, próxima ao Rio Formoso. No início de outubro, o fogo atingiu o Pantanal do Paiaguás, em Corumbá. O maior número de focos está em Porto Murtinho.
Inimaginável que o Pantanal, área alagadiça, esteja à mercê do fogo. Mas as providências só virão se o alerta de Carlos Afonso Nobre comover os poderosos controladores financeiros do agronegócio. Além de uma vida dedicada ao ambiente, ele aceitou ser copresidente do Comitê de Alta Integridade do Future Carbon Group, instrumento financeiro criado para negociar créditos de carbono.
Em sua luta contra o desmatamento, sabe que 50% do desmate em 2022 ocorreu em unidades de conservação pertencentes ao governo federal. Ele se confessa decepcionado, porque a população quer preservar a floresta, mas o governo não. Uma lástima. Porque o Brasil pode se tornar um dos líderes mundiais no combate à emergência climática, mas só se o governo tiver juízo. Falta o governo entender que as florestas em pé tornam a agricultura mais resiliente aos extremos climáticos.
A esperança é de que a pressão internacional coloque o governo brasileiro contra a parede. O Brasil vai perder mercados internacionais se não valorizar os biomas e não zerar o desmatamento. A ciência já provou: uma pecuária superprodutiva usaria menos de metade de todo o território hoje utilizado. A agricultura generativa diminui a alta temperatura e mantém mais água no solo. Por enquanto, o crime ambiental é campeão. Conseguiremos inverter esse jogo?
*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Geral da ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS.