Léo Lins, em seu canal do YouTube nesta terça-feira (1º), reproduziu parte do conteúdo da intimação recebida por oficial de Justiça pouco antes de subir ao palco. Um dia antes de sua apresentação na cidade, Decreto Municipal alterou o valor da multa por mau uso em até 100 vezes o valor da taxa administrativa.
O humorista Leo Lins fez um post no Instagram onde afirma ter sido notificado pela Prefeitura de Marília (SP) com aviso de multa para caso fizesse “piadas jocosas” durante sua apresentação no Teatro Municipal.
O show foi realizado no último sábado (29), horas depois de o ator receber um documento alertando que poderia ser multado em, no mínimo, R$ 70 mil e ter a autorização de uso do teatro municipal suspensa se fizesse “piadas jocosas”.
No palco, durante a apresentação, o humorista ironizou a intimação recebida, segundo ele, por um oficial de Justiça. “Você vai olhar o que é ‘jocoso’ no dicionário, é o que provoca o riso. Tá aqui ‘jocoso’, que provoca o riso, engraçado, divertido e cômico. Não pode. Não pode piada engraçada”, afirmou durante a apresentação.
Em um vídeo postado pelo humorista em seu canal do YouTube nesta terça-feira (1º), Léo Lins reproduz parte do conteúdo da intimação recebida pouco antes de subir ao palco.
“Fica vossa senhoria ciente que a autorização para uso do Teatro Municipal poderá ser suspensa se o espetáculo ou a conduta dos usuários forem contrários à moral e à honra da ordem pública, assim como também está proibida piadas jocosas. Também não podem piadas contra portadores de autismo, portadores de hidrocefalia, portador de obesidade, homofóbicas, discriminatórias, entre outras”, leu o comediante.
O humorista ainda recebeu cópia do Decreto Municipal, publicado um dia antes do show, que fixou a multa em até 100 vezes o valor da taxa cobrada para uso do espaço em casos de desobediência às regras municipais.
“Parece que alteraram a lei por minha causa. Me senti importante”, disse Léo Lins no palco durante a sua publicação.
Léo Lins fez post sobre novo decreto da Prefeitura de Marília — Foto: Reprodução/Instagram
Em nota, a prefeitura de Marília informou que o decreto alusivo às regras de utilização do teatro municipal não teria “referência ao ato abominável de censura, mas ao respeito às minorias, o veemente combate à intolerância de raça e proteção de pessoas com condição de deficiência”.
A prefeitura informou ainda que é inclusiva “e não concorda com promoções culturais que trazem conteúdo ofensivo, propague discurso de ódio, incite à violência, ironize tragédias e ridicularize deficientes físicos ou pessoas obesas”, reiterando ainda que “o Decreto Municipal não possui viés político partidário e não corrompe os Direitos Constitucionais do livre pensamento e liberdade de expressão”.
Até esta terça-feira, o humorista não havia sido multado pela prefeitura.
Mudança no decreto
O humorista Leo Lins já havia feito um post no Instagram comentando o decreto da Prefeitura de Marília que aumentou o valor da multa por mau uso do Teatro Municipal “Waldir Silveira Mello” um dia antes de ele se apresentar na cidade.
Publicado em 2016, o decreto original estipulava uma multa de 10% sob o valor da taxa administrativa paga pelo uso do teatro. Com a mudança, o cálculo passou a ser feito em multiplicação, ou seja, os infratores poderão pagar até 100 vezes o valor da taxa administrativa.
De acordo com o primeiro decreto, a multa era aplicada em casos de danos na estrutura do teatro, consumo de álcool ou cigarros dentro do prédio, e atraso no início do espetáculo. Já a nova regulamentação diz que qualquer dispositivo violado é passivo de multa.
Humorista Léo Lins — Foto: Reprodução/YouTube
Além disso, a autorização de uso do teatro pode ser suspensa se “a conduta de quem for usar o local for considerada contrária à moral, ordem pública ou aos interesses da administração, a critério do secretário de cultura, prefeito ou administração do teatro”.
O novo regulamento, que também instituiu que a fiscalização do cumprimento às regras será feito pelo Departamento de Posturas, foi publicado no Diário Oficial de sexta-feira (28).
Nas suas redes sociais, o comediante utilizou um print de uma reportagem do site Marília Notícia e ainda citou outras situações polêmicas que já enfrentou por conta do humor ácido de seus espetáculos.
“E ainda tem gente que diz: ai, ele só faz piada com o oprimido. Humor tem que ser feito com opressor… Vejam meu número de processos, o número de censuras (47). Os pedidos de prisão… já cortaram o som durante meu show, já mandaram fechar o teatro e os funcionários não aparecerem, já subornaram donos de espaço privado para não me receberem…”, listou.
“Isso tudo enquanto só faço piada de oprimidos, imagine quando eu fizer piada do opressor! Vai acontecer o quê? Bem, o povo que vejo fazendo piada de ‘opressor’ eu vejo fazendo campanhas publicitárias, sendo elogiado na imprensa, aparecendo em capas de revista e com contratos na Netflix, Amazon… É… acho que o opressor está sem poder nenhum para oprimir”, completou.
Em um comentário no próprio post, Léo ainda disse: “‘mau uso do teatro’, ‘departamento de posturas’, ‘interesses da administração’. Parecem trechos de uma obra sobre um futuro distópico com um estado totalitário”.
No vídeo promocional do espetáculo, o humorista chegou a fazer piadas com o prefeito Daniel Alonso (sem partido) e abordou assuntos polêmicos na cidade, como o investimento em radares de trânsito, a falta de água, a reforma da Praça Maria Izabel, os acidentes na Rodovia do Contorno e o uso de maconha na Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Teatro Municipal de Marília — Foto: Prefeitura de Marília/Divulgação
Fonte: G1