“…elevado valor dos grãos em todas as épocas e a busca incessante pela lucratividade…”
O processo de desmatamento do Vale Paranapanema, rico em florestas da Mata Atlântica, foi iniciado junto com a colonização da região, no final do século 19, quando os pioneiros, vindos das regiões de Botucatu, São Manoel e Mineiros do Tiete, passaram a ocupar as terras consideradas devolutas ou a adquirir glebas férteis a preços muito atrativos. Ainda convivendo com animais selvagens e índios, as clareiras foram abertas para a construção de moradias e a instalação das lavouras de subsistência, que logo deram lugar às plantações de café em áreas maiores.
Depois da exploração lenta dos espaços, que manteve grandes áreas de matas intocadas e as nascentes e riachos protegidos como riquezas até os anos de 1970, o fenômeno da produção de grãos, iniciado pelo trigo e consolidado pela soja, acelerou o processo de expansão da chamada agricultura extensiva. Com a estagnação da produtividade e as terras exauridas com a monocultura, os novos métodos de cultivo, incluindo a rotação de culturas e o plantio direto, trouxeram a agricultura intensiva com mais tecnologia, correção e proteção do solo.
O elevado valor dos grãos em todas as épocas e a busca incessante pela lucratividade foram decisivas para condenar as áreas florestais e até mesmo as matas ciliares, pois a filosofia dos novos agricultores foi produzir em grandes extensões com máquinas e equipamentos que exigem mais espaço para trabalhar. Assim, a agricultura de subsistência que servia às famílias, como as plantações de arroz, feijão e café, a criação de frangos e gado para corte e leite e até a produção de hortaliças, foram substituídas pelas feiras livres e os supermercados, abastecidos pelos produtores tradicionais.
Desde então, as árvores se tornaram empecilhos, as matas desvalorizavam as propriedades e até as nascentes, assim como muitos riachos, foram assoreados e transformados em áreas de plantio de grãos, com a demolição de moradias e instalações para animais. As paisagens se transformaram em grandes áreas descobertas, com a terra nua exposta aos ventos e às enxurradas, sem as barreiras das matas e os rios quase mortos pela poluição e o assoreamento. Como resultado da batalha entre a agricultura e as árvores, o inverno foi reduzido, a umidade do ar diminuiu, o calor aumentou e a necessidade de irrigação cresceu, mesmo com pouca água, devido à indefinição do período de chuvas.
