“…vendendo o húmus da terra que representa a matéria orgânica essencial para a produção…”
O Dia do Agricultor, celebrado ontem, tem enorme importância no calendário comemorativo nacional, pois reporta a um setor básico da economia, cuja agricultura representa quase 8% de participação do PIB brasileiro, e passa de 20% quando se considera todas as atividades agregadas, o chamado agronegócio.
Este potencial é fruto da atividade primária, de plantar e colher, utilizando nossos ricos recursos naturais para criar importante fonte de riqueza, de geração de empregos e representar grande peso na pauta de exportações do país que já é o maior produtor mundial de vários e importantes produtos agrícolas.
É justamente a questão da exportação de grãos, o chamado produto primário, sem qualquer manufatura ou industrialização, que pode ser considerado o gargalo da agricultura nacional, refém da importação de insumos para o cultivo, incluindo adubos e defensivos, máquinas e equipamentos produzidas por multinacionais e as safras enviadas das lavouras para os portos.
Sobre esse tema, o líder político Leonel Brizola, que fez história como único a governar dois estados, o Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro, foi enfático em discurso como candidato a presidente, em 1989, quando disse que o Brasil era apenas exportador de húmus.
Em observação construtiva e de alerta ao setor, Brizola lembrou que a exportação de produtos primários como soja, trigo, milho e café, incluindo minérios brutos, representa a venda continuada da fertilidade do solo, sem agregar valor ou gerar empregos por meio da indústria, muito mais rentável economicamente.
Passados 34 anos do sábio discurso, nossa agricultura quase dobrou em área e quase triplicou em produção, mas permanece dependente de máquinas, equipamentos e insumos e continua exportando grãos, ou como foi dito, vendendo o húmus da terra que representa a matéria orgânica essencial para a produção agrícola.
Para que tenhamos de fato uma agricultura moderna, forte e imune às oscilações do mercado internacional, é preciso produzir adubo de qualidade, fabricar máquinas e implementos nacionais e, principalmente, industrializar os produtos para exportação com muito mais valor.
Portanto, é preciso que o agricultor seja empresário, para de fato praticar o agronegócio, que as cooperativas invistam ou financiem a produção de adubos e equipamentos e que o governo tenha política de incentivo à exportação de produtos agrícolas industrializados.