Médico completa o centenário de vida de olho no futuro: quer chegar aos 120 anos

Para chegar lá, hábitos saudáveis e se aproximar de Deus estão na lista das práticas indispensáveis

Médico que tratou e operou milhares de mogianos durante a carreira, Nobolo Mori celebra ao lado de 300 amigos neste sábado (6/1) etapa marcante do propósito pessoal de viver 120 anos. Ele passa a integrar, a partir de hoje, a exclusiva e intrigante lista dos centenários brasileiros, um time, aliás, que aumentou consideravelmente de tamanho entre 2010 e 2021, 56%, e possui 37 mil pessoas, sendo três entre cada quatro, mulheres.

Desde muito pequeno, Sidney Mori ouve o pai dizer que viverá mais de 100 anos. No princípio, nas conversas em casa, quando a profecia surgia, a mãe, a doutora Mieko (in memoriam) cutucava o filho, como a duvidar, “olha o que ele está dizendo”. 

A família de médicos que durante anos construiu e manteve o Hospital Ipiranga tem a ciência como norte e princípio. 
Sidney tem 68 anos. O pai 100. A também muito conhecida doutora Mieko viveu até os 96. O vaticínio de Nobolo surgiu bem antes dos octogenários e nonogenários cruzarem a linha do tempo muito bem, obrigado. Na década de 1950, a expectativa de vida dos brasileiros de 46,8 anos. Agora, essa régua está em 75 anos e 5 meses. 

Reunidos, esses dados provocam ainda mais sobre o que Sidney passou a estudar e atesta a respeito dos 100 anos do nosso mais novo centenário que ultrapassou 25 anos dessa projeção.  “Há um aumento da expectativa de vida no mundo, mas o que me levou a estudar a geriatria, após um desarranjo intestinal que o meu pai teve, quando estava com 96 para 97 anos, foi observar os resultados dos exames que apontaram uma normalidade surpreendente para maioria dos índices de saúde. Nonogenários são em número maior, assim como os centenários, mas o que desperta a atenção é qualidade de vida que muitos, nesse grupo, estão apresentando”, comenta.

É nesse reduto, o dos centenários prá lá de ativos, que Nobolo Mori está. 

Praticante de atividades físicas diárias, por meio das partidas de golfe que costumam levar horas, adepto de uma alimentação saudável (sem carne), o médico dono de incontável lista de pacientes operados ou tratados por ele, até 2018, quando ainda clinicava, tem vitalidade nutrida por disciplinares hábitos. Vive sozinho, madruga ali pelas 5 horas.

Na caminhada de um século de vida, Nobolo construiu amizades e feitos: foi vice-prefeito de Waldemar Costa Filho, sem, no entanto, abandonar o avental branco por onde quer que circulasse no cumprimento da gestão. 

Curiosidades ligadas a ele: ter servido de modelo e ser eternizado como o imigrante japonês criado pelo escultor holandês Van de Wiel, na obra instalada na conhecida praça da avenida Voluntário Fernando Pinheiro Franco, além do desfrute da amizade com personalidades como o pintor chinês Chang dai-chien, autoridades médicas e políticas e  cidadãos que entregaram a ele os cuidados médicos de gerações de mogianos.

Perto de Deus

Em entrevista dada ao amigo e jornalista Darwin Valente, ao se apossar dos 99 anos, Nobolo acresceu à lista acima a relação com Deus.

A RECEITA - Bons hábitos, o exercício de valores como a doação ao próximo e a aproximação com Deus são os segredos da longevidade, segundo o agora centenário Nobolo Mori (Imagem: Divulgação)

A RECEITA – Bons hábitos, o exercício de valores como a doação ao próximo e a aproximação com Deus são os segredos da longevidade, segundo o agora centenário Nobolo Mori (Imagem: Divulgação)

Para ele, o segredo está em “aproximar o pensamento de Deus, pensar em ajudar ao outro”, além da vida saudável, à base de uma dieta vegetariana e os cuidados para não consumir “produtos nocivos para o organismo”.

Neste receituário do que pode atropelar os planos de quem planeja viver mais, Sidnei Mori introduz algo que a festa dos 100 anos de Nobolo bem clarifica. “Nas atividades diárias, no Instituto de Moralogia, que ajudou a fundar, na  Serra do Itapety, no Hospital Ipiranga e nas longas partidas de golfe, o meu pai criou uma rede de amigos de todas as idades. Na idade dele, quase não tem ninguém”. 

Então, o doutor Nobolo, visto sempre com passo apresentado e sorriso no rosto, mantém pessoas ao seu redor de diferentes idades, culturas e interesses, o que lustra um  ingrediente latente na personalidade do médico: a curiosidade. “Ele é um curioso, um leitor diário de revistas, livros”, entrega o filho.

Fora isso, pratica o exercício do que prega a Moralogia, ciência dedicada ao cultivo de valores elevados.
“O meu pai me ensinou que não é fazer o bem por fazer. Não é atravessar um desconhecido com dificuldade na rua, ceder o lugar para o idoso ou respeitar as leis de trânsito. Ele diz que tudo isso não vale, se não tiver o verdadeiro sentimento de doação ao outro”, afirma Sidney.

A Moralogia, em linhas gerais, propõe o treino do desenvolvimento de valores morais.

No convite enviado a amigos para a celebração dos 100 anos, estão pessoas do convívio de Nobolo. “São os que estão com ele, no dia a dia,  no hospital Ipiranga, na Moralogia e no golfe”.

Também são esperados amigos que atravessaram décadas como ele:  a médica Norma império Meireles, do Rio de Janeiro, que estudou com a doutora Mieko e tem 96 anos, e os médicos Wilmes Roberto Gonçalves e Evgeny Kapritchkoff.

Nobolo atraiu pacientes por ser o primeiro cirurgião de Mogi

Nascido em um lugar chamado Córrego Seco, perto de Birigui (Interior-SP), Nobolo Mori estudou no Rio de Janeiro. Quando chegou a Mogi, onde os pais já moravam, no final dos anos 1950, era, segundo conta, o primeiro cirurgião da cidade. O fato deu fama a ele junto à comunidade japonesa.

“Vou viver 120 anos”

Cada vez mais comum, os centenários ativos atraem a ciência e o senso comum. E, isso, desde que o mundo é mundo. Viver mais e melhor está na métrica do instinto de sobrevivência do homem.

Esse poder de atração do tema explica a boa performance do artigo publicado pela antropóloga e professora Miriam Goldenberg, na Folha de S.Paulo, que se tornou um dos assuntos mais lidos no dia de sua publicação. 

Com o título “Eu vou viver 120 anos”,  Miriam compartilha como conheceu Nobolo Mori após uma conversa, por e-mail, com o filho dele, Sidney. Ela é autora do livro “A Invenção de uma Bela Velhice”.

Após encontros no Rio e em Mogi, a pesquisadora descreve trechos do convívio e o mantra do médico repetidos a amigos, pacientes e entrevistas.

Essa amizade recente, confirma Sidnei Mori, está na base do bem viver bem pregado pelo pai dele.  “Ele está disposto a aprender sempre”, diz o filho.

Miriam e o marido vieram para um abraço, no final de dezembro. Iam desfrutar da convivência do médico por dois dias, acabaram ficando mais tempo, e compartilhando com a família mogiana, o período do Natal.

Em seu artigo, ela recita o segredo descrito por Nobolo: “Para fazer 120 anos você tem que ter saúde, precisa fazer esporte, tem que ter mente saudável, tem que ouvir o que Deus quer que você faça, fazer o bem, ser útil à humanidade. O mais importante é ter gratidão no coração, agradecer tudo o que você tem na vida: saúde, trabalho, autonomia, amigos, natureza. Estou felicíssimo, felicíssimo, felicíssimo. Arigatou”.

A isso, o filho afivela um fato observado por ele há quase 70 anos. “Ele tem carisma. Eu sinto isso em visitas e encontros que ele tem com pessoas que fazem questão de estar com ele. Outro dia, o Boy (Valdemar Costa Filho) antecipou o abraço pelo aniversário, e eu notei, nos olhos dele, o mesmo que vejo em pessoas, quando vamos ao banco ou em alguma loja, e uma pessoa faz questão de ir cumprimentá-lo, comentar que o conhece, que ele ajudou alguém da família. Para mim, conta também esse carisma”.

E como conta. Parabéns, doutor Nobolo, muitos anos de vida. (E.J.)

Fonte: O Diário

Compartilhe
Facebook
WhatsApp
X
Email

destaques da edição impressa

colunistas

Cláudio Pissolito

Don`t copy text!

Entrar

Cadastrar

Redefinir senha

Digite o seu nome de usuário ou endereço de e-mail, você receberá um link para criar uma nova senha por e-mail.