O fenômeno que liga desastres ambientais no Rio Grande do Sul, EUA e Espanha

Desde 2023, quando o mundo registrou o ano mais quente da história, testemunhamos um aumento dos desastres climáticos em diferentes áreas do planeta. Só nos últimos meses, os mais notáveis foram as enchentes no Rio Grande do Sul, o furacão Milton nos Estados Unidos e a tempestade-relâmpago na Espanha, que matou mais de 200 pessoas nesta semana.

Segundo especialistas, esses fenômenos estão interligados pelo aumento das temperaturas dos oceanos, resultado do acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera. “Os oceanos têm papel importante na contenção do calor sobre a atmosfera, mas isso está elevando significativamente sua temperatura e impactando o clima global. Se continuar assim, vamos viver catástrofes em série”, alertou Regina Rodrigues, pesquisadora da Organização Meteorológica Mundial (OMM), em entrevista ao G1.

De acordo com a ONU, em 2023 as concentrações de dióxido de carbono (CO2), o gás de efeito estufa mais comum, atingiram níveis 151% maiores do que antes da era industrial. Esse gás aprisiona calor, aumentando a temperatura dos oceanos, que retêm cerca de 90% do calor adicional.

Esse fenômeno não só aquece a água, mas aumenta a evaporação, lançando mais umidade na atmosfera e intensificando as chuvas. “Quando o oceano está muito quente, ele evapora mais e leva muita água para a atmosfera, o que aumenta o volume das chuvas”, explicou Regina.

Na Espanha, a cidade de Valência viveu um dos episódios mais devastadores do século, quando chuvas torrenciais trouxeram o volume equivalente a um ano de precipitações em poucas horas. A causa foi uma “depressão isolada em altos níveis” (DANA, em espanhol), um fenômeno causado pela interação de massas de ar frio e quente.

A OMM aponta que o Mar Mediterrâneo, com temperaturas elevadas, forneceu umidade extra para a tempestade, criando nuvens densas e chuvas torrenciais que resultaram em inundações e tragédias. Em algumas áreas, pluviômetros registraram 491 milímetros de chuva em apenas oito horas.

“A presença de ar quente perto da superfície, alimentado pela umidade do Mediterrâneo, combinada ao ar frio na atmosfera superior, resultou nas nuvens convectivas responsáveis pelas inundações”, explica a Organização Meterológica Mundial.

Fenômenos semelhantes foram observados em outras regiões. No Saara, um cenário sem precedentes: o deserto ficou alagado. Isso ocorreu devido à umidade transportada por canais atmosféricos, chamados “rios voadores”, que trouxeram precipitações até mesmo para uma das regiões mais secas do planeta.

Nos Estados Unidos, o furacão Milton é outro exemplo do impacto do aquecimento dos oceanos. Quando o fenômeno passou pelo Golfo do México, onde as águas estavam 2 a 3 °C acima da média, ele se intensificou rapidamente, alcançando a categoria 5 com ventos de 290 km/h.

A Atribuição do Clima Mundial (WWA, na sigla em inglês) aponta que essa intensificação foi resultado das mudanças climáticas, que aumentaram os ventos do furacão em 10%. Caso as águas estivessem em temperatura normal, Milton seria um furacão de categoria 2, muito menos destrutivo.

No Brasil, o Rio Grande do Sul também foi palco de uma tragédia relacionada ao aquecimento global. Em abril, um sistema de vento intenso, conhecido como cavado, causou chuvas intensas e trouxe mais de 180 mortes.

O meteorologista Fábio Luengo aponta que o calor e a umidade elevada na atmosfera, impulsionados pelas águas oceânicas aquecidas, formaram um temporal de magnitude sem precedentes. “O oceano mais quente, como estamos vendo agora, gera mais energia para a formação das chuvas. A mudança no padrão do clima interfere na atmosfera e intensifica fenômenos climáticos que antes ocorriam de forma menos severa”, explicou.

Fonte: DCM

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