A Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA) convocou uma audiência pública e listou 35 áreas, incluindo o Horto Florestal de Palmital, nas proximidades do Distrito de Sussuí, a serem vendidas, conforme publicação feita em 8 de abril no Diário Oficial do Estado.
O objetivo do Governo do Estado é de arrecadar fundos para aplicação em outras áreas de interesse da administração estadual, mas a comunidade científica e pesquisadores temem que a medida prejudique a pesquisa, a produção científica e o desenvolvimento de novas tecnologias no setor do agronegócio.
A reunião convocada pelo governo estava prevista para ser realizada na segunda-feira da semana passada (14/04), com o objetivo de discutir uma proposta de alienação das propriedades, mas foi suspensa por meio de liminar obtida na Justiça pela Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC).
O Horto Florestal de Palmital tem como característica o solo do tipo terra roxa, com elevada aptidão agrícola, profundidade, textura argilosa e baixa declividade, que são fatores que o tornam ideal para a produção de grãos.
A possível venda da área comprometeria diretamente as pesquisas realizadas pela unidade de Assis da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta Regional), instituição vinculada à SAA, dificultando o avanço de projetos de desenvolvimento tecnológico voltados à realidade do Vale Paranapanema.
O alerta foi dado pelo Centro de Desenvolvimento do Vale Paranapanema (CDVale), uma instituição que atua na região desde 1990 e contribuiu com cooperativas, empresas e entidades para ações voltadas ao progresso socioeconômico do setor rural e à sustentabilidade.
Segundo o presidente da ONG, o agrônomo Hugo de Souza Dias, as instituições da região lutaram muito para que o Horto Florestal de Palmital passasse a ser utilizado para as pesquisas da Apta Regional de Assis.
“Levamos 30 anos para conseguir transformar a área em local de pesquisa e agora corremos o risco de perder essa conquista”, lamentou Hugo.
“O Horto de Palmital tem terra argilosa roxa, típica da Mata Atlântica, com grande aptidão para agricultura e para a produção de grãos. Ele é diferente da estação experimental de Assis, que tem solo arenoso do bioma Cerrado. Assim, temos dos ambientes para realização das pesquisas na região”, comparou o agrônomo.
De acordo com Hugo, a criação da área da pesquisa representou o reconhecimento e valorização do processo de experimentação científica na região, que foi conseguido a duras penas, com apoio de lideranças políticas e rurais.
“Acabar com o Horto de Palmital desmereceria todo o trabalho dos que lutaram para criar a estação de pesquisa. Ao contrário, o governo deveria fortalecer o projeto com a mobilização de mais pesquisadores”, completou.
Hugo destacou também que, antes de abrir o processo de venda, o governo deveria consultar agricultores e técnicos da região sobre a proposta. O agrônomo informou ainda que o CDVale enviou, no último dia 8 de abril, um ofício ao secretário de Agricultura Guilherme Piai pedindo a reconsideração do plano.
Hugo disse que o CDVale quer evitar a venda da área em Palmital e que a entidade está buscando apoio de prefeitos e lideranças rurais da região para a campanha.
O Horto Florestal de Palmital abriga experimentos anuais de avaliação de cultivares de soja e milho safrinha, com foco em produtividade, resistência e adaptação às condições locais.
Os resultados são fundamentais para orientar cooperativas, produtores e técnicos da região — tanto da iniciativa privada quanto do setor público — na escolha de variedades mais adequadas, garantindo produtividade, sustentabilidade e competitividade à agricultura regional.
Áreas consideradas
Na convocação publicada no Diário Oficial do Estado, a Secretaria de Agricultura e Abastecimento atribuiu numerações às áreas envolvidas no projeto, mas não informou a localização exata de cada fazenda experimental nos municípios. Veja a lista de cidades abaixo:
- Campinas
- Cananéia
- Dois Córregos
- Gália
- Iguape
- Itapetininga
- Itararé
- Jaú
- Jundiaí
- Mococa
- Monte Alegre do Sul
- Nova Odessa
- Palmital
- Peruíbe
- Pindamonhangaba
- Piracicaba
- Pirassununga
- Registro
- Ribeirão Preto
- São Roque
- Sertãozinho
- Tatuí
- Tietê
- Ubatuba
Ainda de acordo com a APqC, uma das unidades consideradas pelo governo estadual é a Fazenda Santa Elisa, em Campinas (SP), que abriga o Instituto Agronômico (IAC). “Uma das áreas cobiçadas para venda abriga parte do maior banco de germoplasma de café do mundo”, destacou a associação.