A Receita Federal, em conjunto com a Polícia Federal, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) e o Ministério da Agricultura, deflagrou nesta quinta-feira (16/10) a Operação Alquimia, uma ofensiva inédita para rastrear a origem do metanol usado na fabricação de bebidas alcoólicas adulteradas. A ação é uma resposta ao aumento de casos de intoxicação e morte pelo produto.
O objetivo é recolher e analisar amostras químicas para identificar a procedência da substância e comparar com lotes de bebidas falsificadas apreendidas em várias regiões do país. A ideia da operação é desenvolver um sistema de “rastro químico”, capaz de cruzar informações fiscais com amostras laboratoriais, uma espécie de “DNA do metanol”.
A operação é um desdobramento das investigações Boyle e Carbono Oculto, que revelaram esquemas de adulteração de combustíveis com metanol. Agora, os indícios apontam que parte desse produto, originalmente importado para uso industrial, foi desviada para a fabricação clandestina de bebidas alcoólicas.
Entre os alvos estão empresas de fachada, conhecidas como “noteiras”, que emitem notas fiscais frias para simular o transporte do produto. Em muitos casos, os caminhões e motoristas listados nunca chegaram aos destinos informados, indicando fraude documental.
Conforme informação do governo federal, foram mobilizados 80 policiais e outros 70 servidores de outros órgãos para ações em diversas cidades, inclusive em uma destilaria desativada em Palmital. A empresa, de acordo com informações da Polícia Federal de Marília, teve seu CNPJ usado para a compra de metanol que pode ter sido destinado à adulteração de combustíveis e bebidas.
A equipe da Polícia Federal esteve na destilaria em Palmital, mas como o local está fechado há algum tempo, ninguém foi preso e nada foi encontrado nas instalações. Houve ainda ações em São Paulo, Laranjal Paulista, Guarulhos, Suzano, Araçariguama, Sumaré, Cotia, Limeira, Jandira, Arujá, Cerqueira Cesar, Morro Agudo, Avaré, Colombo (PR), Paranaguá (PR), Araucária (PR), Dourados (MS), Campo Grande (MS), Caparaó (MS), Várzea Grande (MT) e Cocal do Sul (SC).
Altamente tóxico, o metanol é utilizado em combustíveis, solventes e produtos químicos. Em bebidas alcoólicas, porém, qualquer concentração acima de 0,1% já é considerada perigosa pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Pequenas doses podem causar cegueira; quantidades maiores são fatais. O problema vai muito além da saúde pública.
Segundo o Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade (FNCP), o mercado ilegal de bebidas alcoólicas causa perdas anuais de R$ 85,2 bilhões em sonegação e prejuízos a empresas formais. O valor equivale a mais de 1% do PIB brasileiro. O impacto se espalha também sobre o mercado de etanol. Parte da cadeia investigada envolve usinas e distribuidoras que operam em zonas de difícil fiscalização, facilitando desvios de metanol ou misturas ilícitas.
Fonte: Veja/Governo Federal












