Dona Duzinha dos Reis, de 104 anos, começou a estudar recentemente para realizar seu maior sonho: poder ler a Bíblia.
Para isso, ela participa de um projeto de alfabetização de adultos e idosos que visa reduzir a taxa de analfabetismo nos municípios do Mato Grosso. Após algumas semanas de prática, a idosa já consegue escrever o próprio nome.
Ao nascer, Dona Duzinha foi batizada como Zumira, mas com o passar do tempo, ganhou o apelido e decidiu mudar seu nome. Ela cresceu no interior mineiro, e passou a infância morando na roça. A escola não era distante, mas o pai não a deixou estudar – para ele, apenas os homens podiam frequentá-la.
Após casar, também não teve a oportunidade. “Até que tentei, mas meu marido ficou doente e acabei desistindo. O povo ia dizer que eu abandonei meu marido doente. Achei melhor ficar com ele e não estudei mais”, lembra.
Desde o final dos anos 70, quando já era idosa, Duzinha mora no Mato Grosso. Atualmente, vive em Araputanga, a cerca de 350 km de Cuiabá.
Aposentada, tem sempre a companhia dos (muitos) netos e bisnetos; uma das netas, que mora na parte dos fundos da casa, é quem cuida dela. Duzinha ainda prepara suas próprias refeições e faz alguns serviços domésticos.
Desde que mudou de nome, a idosa perdeu o contato com os familiares de Minas Gerais. Em Araputanga, a professora Sandra Regina é a responsável por sua alfabetização, e foi quem a incentivou a se inscrever no Projeto Muxirum, que visa alfabetizar adultos e idosos do estado.
Sandra conta que conheceu Duzinha em um culto na igreja que as duas frequentavam. “Quando estava montando a turma de alfabetização, a procurei para saber se não tinha interesse em estudar e ela aceitou na hora”, lembra. “Ela quer escrever seu nome em toda aula, por isso, faço um exercício somente para ela. Outro dia, durante a aula, estava muito frio e as outras alunas estavam reclamando e queriam ir embora mais cedo. Mas ela não aceitou acabar a aula. Disse ter ido para estudar e que iria ficar até o final”, completa.
O Projeto Muxirum tem duração de 270 horas, distribuídos em seis meses, com carga horária mínima de 10 horas semanais. A ação é desenvolvida em parceria com as prefeituras municipais, igrejas, sindicatos, clubes de serviços, sindicatos rurais e outros segmentos organizados da sociedade mato-grossense.