PAZ ENTRE AS IGREJAS

            Ecumenismo é uma palavra difícil, que diz respeito à mais vergonhosa contradição da fé cristã: a separação. Às vezes é mais fácil usá-la para justificar ações de diálogo com as religiões não cristãs, deixando de lado a grande trave de nossos olhos, a cisão entre os adeptos de uma mesma fé.

            Desde o movimento reformista de Lutero, cujas razões e causas aqui não serão motivo de nossa análise, vários foram os esforços e tentativas de reaproximação entre as Igrejas cristãs. Até dois Concílios se denominaram ecumênicos! Vários pontífices católicos se mostraram abertos a essa busca de unidade. No entanto, a cada passo de reaproximação, parece-nos, dois outros são dados em direção oposta. O que nos falta para apagar essa mancha pútrida e nauseante da história do cristianismo?

            A Paz entre os humanos passa pelo testemunho de unidade entre os cristãos. Existe a permanente necessidade de diálogo cultural, racial e religioso – pedestal da paz que sonhamos – mas nos quedamos diante de gritante contradição: a “guerra” entre cristãos. Nunca seremos construtores da fraternidade ou solidariedade se, antes, não as edificarmos entre nós, buscando a qualquer preço a unidade cristã, o mais precioso testemunho de fé que a Igreja de Cristo pode oferecer ao mundo. Sem ela, estamos jogando pérolas aos porcos.

            Dentre as raras ações de diálogo ecumênico dos últimos anos, podemos citar Taizé, na França. Em 1940, um jovem calvinista, Roger Schutz, se instalou naquela pequena aldeia, ao norte de Lion, para uma vida devotada a Deus. Sua experiência atraiu outros jovens, de várias denominações cristãs. Logo eram centenas, todos buscando uma vida comunitária e de acolhimento aos espoliados ou refugiados de guerra. Lenta, mas perseverantemente, foram vencendo resistências da Igreja católica e das Igrejas protestantes. O testemunho falava mais alto. Em 1970, já congregando milhares de jovens no mundo, realizaram seu primeiro concílio. Em 1974 assustaram a França e o mundo com o poder de aglutinação que possuíam. Nada menos do que 45 mil jovens tomaram as colinas de Taizé, como representantes de mais de cem países e dos cinco continentes. A mídia se surpreendeu não só pelo número de participantes, como também pela euforia, paz e cordialidade reinantes entre eles.

            Desse encontro surgiu a “Carta ao Povo de Deus”, eivada de desejos de reaproximação e unidade, respeitando-se as eventuais diferenças. Eis um de seus mais belos trechos: “Igreja, que dizes tu do teu futuro? Vais renunciar aos meios de poder, aos compromissos com os poderes políticos e financeiros? Vais chegar a ser uma semente de sociedade sem classes e sem privilégios, sem dominação de um homem sobre o outro, de um povo sobre o outro?”.

            Em 1978, oito anos depois do primeiro concílio de Taizé, um balanço da então mais expressiva caminhada ecumênica produziu uma conclusão de esperança. “Durante estes oito anos, compreendemos melhor que amar Cristo é amá-Lo ao mesmo tempo no seu corpo que é a Igreja. E amá-lo não com palavras, mas pelo empenhamento de todo nosso ser. Com efeito, quanto mais vamos às fontes de vida cristã na contemplação do Cristo, tanto mais nós somos levados a procurar atos para realizar no concreto das nossas vidas”. A unidade era o ato mais concreto. Taizé taí. Deixo abertas as portas do diálogo. Afinal, faltam ações, gestos concretos, desprovidos de falsetes, farisaísmo ou cartas marcadas. O mundo está aberto à simpática e maravilhosa proposta que nos deixou Jesus: “Amai-vos uns aos outros”. Onde está nosso testemunho?

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Cláudio Pissolito

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