Mais de 850 mil pessoas da etnia rohingya vivem em campos densamento povoados e precários
Trabalhadores humanitários em Bangladesh correm para conter a propagação do novo coronavírus no maior campo de refugiados do mundo, instalando centros de isolamento e tratamento e pias para a lavagem de mãos, após a confirmação dos primeiros casos.
A agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) disse que as 850 mil pessoas da etnia rohingya que ocupam os campos densamente povoados em Bangladesh estão entre as mais vulneráveis ao novo vírus altamente contagioso, que se espalhou rapidamente pelo mundo.
Os trabalhadores humanitários alertaram para um potencial desastre humanitário se houver um surto nos campos de Bangladesh, país que registrou cerca de 300 mortes pelo vírus. “As equipes foram ativadas para iniciar o isolamento e tratamento de pacientes, bem como para rastrear contatos”, disse Andrej Mahecic, porta-voz do Acnur, depois que três refugiados rohingya tiveram resultados positivos em seus testes para a Covid-19. — Essas populações são consideradas as que estão mais em risco globalmente nesta pandemia.
“Com 40 mil pessoas amontoadas por quilômetro quadrado, é impossível manter a distância social”, disse Dipankar Datta, diretor em Bangladesh da organização Oxfam, acrescentando que os banheiros compartilhados tornaram as coisas ainda mais desafiadoras. As previsões de um ciclone nos próximos dias podem trazer “mais sofrimento” aos refugiados, alertou Datta.
Rezwan Khan, um refugiado rohingya de 22 anos, disse que as pessoas nos campos estavam assustadas. “Vi menos pessoas saindo”, disse ele. Mais de 730 mil muçulmanos rohingya chegaram de Mianmar no final de 2017, fugindo da repressão das forças militares e de grupos paramilitares, que queimaram suas aldeias e casas. Mianmar está enfrentando acusações de genocídio no Tribunal Internacional de Justiça em Haia por causa da violência.
O exército de Mianmar nega o genocídio, dizendo que travou uma batalha legítima contra combatentes armados da etnia rohingya. Embora vivam há décadas em Mianmar, os rohingya não são oficialmente reconhecidos como um dos grupos étnicos do país majoritariamente budista.
Apesar de uma ditadura militar de quatro décadas ter formalmente terminado em 2011 em Mianmar, as forças armadas ainda têm a palavra final no governo do país.
FONTE: Jornal O Globo