‘PM que ganha R$ 1 mil e eu ganho 300 mil’, disse homem que ameaçou policial em Alphaville. Mulher havia chamado ajuda após marido embriagado tentar agredi-la.
O cabo Edson, que atendeu uma ocorrência em Alphaville, condomínio de alto padrão na Grande São Paulo, em que foi agredido verbalmente por um empresário de 49 anos que estava alterado e, segundo a esposa dele, embriagado, disse ao programa “Encontro com a Fátima”, da TV Globo, que, apesar de ter sido treinado para este tipo de ação, foi “difícil” suportar o momento.
O caso ocorreu na sexta-feira (29), quando o PM foi atender uma ocorrência de violência doméstica feita pela esposa do empresário. Ao chegar ao local, o cabo foi insultado pelo agressor, chamado de “lixo” e discriminado com palavrões, dizendo que ganha “R$ 300 mil por mês” enquanto o PM ganha “apenas R$ 1 mil”. O caso tomou repercussão nas redes sociais após um vídeo da ocorrência ser divulgado.
“Não somos acostumados a receber esse tipo de ofensa neste nível. Não foi fácil, não foi fácil”, disse o cabo Edson ao programa “Encontro”.
“Eu continuo com minha honra e minha dignidade. Somos treinados para este tipo de situação, para ter bagagem e estrutura emocional para atender a população da melhor forma possível e em qualquer circunstância. Somos treinados neste nível e até pior, para a parte emocional e psicológica para agir com o cidadão em qualquer circunstância”, salientou o PM.
O comerciante de 49 anos foi levado algemado e levado para a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Santana do Parnaíba, mas foi solto porque sua esposa, uma operadora bancária de 46 anos, não quis representar criminalmente contra ele naquele momento. Em depoimento à Polícia Civil, o homem negou que tenha ameaçado a mulher e afirmou que não se lembra de ter ofendido os policiais.
Nas redes sociais, o governador de São Paulo, Joao Doria (PSDB), afirmou que o homem responderá na Justiça pelos insultos feitos aos PMs e que os agentes que participaram da ocorrência serão homenageados no Palácio dos Bandeirantes.
“A violência doméstica em São Paulo será sempre combatida seja o agressor rico ou pobre. Covardia não tem classe social. Também não admitimos insultos e desrespeito contra nossos policiais. Depois de afrontar o policial, o agressor foi dominado e levado para a Delegacia da Mulher”, disse Doria no Twitter.
“Agora vai responder na Justiça pelos seus atos covardes. Os policiais são heróis que serão homenageados pelo Governo de SP no Palácio dos Bandeirantes”, acrescentou Doria.
Vídeo
Um vídeo da ação do policial viralizou na internet. Entre as coisas que o comerciante falou aos agentes da Polícia Militar estão:
- “Você pode ser macho na periferia, mas aqui você é um b* [palavrão]. Aqui é Alphaville, mano”,
- “Você não me conhece”;
- “Eu ganho R$ 300 mil por mês”, “você é um m* [palavrão] de um PM que ganha R$ 1 mil”;
- “Eu vou te chutar na cara”, “tenho uns 50 caras pra enfrentar você”;
- Numa das poucas falas ditas pelo PM no vídeo ao comerciante é possível ouvir: “Mas você não é homem de vim [sic]”.
- Ao fim da gravação, o homem ainda xinga e a ponta a mão para uma policial feminina que estava atrás de um carro: “Você e essa p* [palavrão] do c* [palavrão]”.
Segundo os PMs, a esposa tinha dito que o marido estava violento e agressivo com ela após beber. De acordo com o registro do caso, feito na delegacia, a operadora telefonou para a Polícia Militar pedindo ajuda porque o comerciante “havia feito uso de bebidas alcoólicas, e durante o dia todo, a ofendeu com diversos xingamentos”. O casal está casado há 20 anos e tem dois filhos.
Ao chegarem ao local, os agentes da PM contaram que a mulher saiu de dentro da residência com a filha no colo, mas o homem também apareceu “totalmente alterado” e passou a ofender e ameaçar a equipe. A criança e a mulher presenciaram as ofensas na garagem.
O cabo afirmou que “pediu calma” ao comerciante, mas “ele se recusava a conversar com os policiais e continuava a ofendê-los” da porta da casa.
Nas imagens, o homem alterado telefona para alguém.
“Um f* [palavrão] de um polícia de m* [palavrão]. Querendo invadir minha casa e me levar preso. Por favor, vem pra cá agora”, diz o homem no telefone.
Enquanto isso, a mulher dele diz algo ininteligível e sai da casa com a criança no colo, ficando na garagem. O comerciante fica parado na porta da casa falando ao telefone:
“Vem pra cá e me ajuda. Porque esse b* [palavrão]. Esse gordo f* [palavrão] tá achando que ele é o quê?”
Quando o policial militar parece caminhar, o comerciante grita e o ameaça de agressão:
“Não pisa na minha calçada. Não pisa na minha rua. Eu vou te chutar na cara, f* [palavrão]” e em seguida diz: “Você é um lixo, seu m*[palavrão]”.
Quando pede ajuda, o comerciante diz os nomes de duas pessoas que conheceriam ou seriam ligadas a pessoas envolvidas com segurança de algum lugar:
“Traz o segurança de segurança pública. Traz o secretário que você tem que trazer e leva esse f* [palavrão] da p* [palavrão] pra casa do c* [palavrão]”
Enquanto isso, o homem insiste que quer a saída do policial da frente da sua residência:
“Mas tira esse lixo da minha casa”, fala. “Eu quero ver [ininteligível] se não tenho uns 50 caras pra enfrentar você.”
Nesse momento, o agente da PM diz:
“Mas você não é homem de vim [sic]”.
E o comerciante responde:
“Eu não sou mesmo. Sabe por que? Porque você é um b* [palavrão]. Porque você é um m* [palavrão] de um PM que ganha R$ 1 mil. Eu ganho R$ 300 mil por mês”.
Policiais que assistiram ao vídeo e demonstraram indignação em grupos de Whatsapp disseram que o salário de um cabo da PM pode chegar a R$ 4,5 mil.
Na última parte do vídeo, o comerciante volta a ofender o policial militar:
“Você não me conhece. Você pode ser macho na periferia, mas aqui você é um b* [palavrão]. Aqui é Alphaville, mano”.
E pede para o PM se aproximar e depois o ameaça processá-lo na Justiça:
“E aí? Sobe aqui. Quero ver se você é macho de vir aqui. Você vai ver o processo que você vai responder na sua vida”.
Em seguida o vídeo termina com o homem xingando a policial:
“Você e essa p* [palavrão] do c* [palavrão]”.
FONTE: G1