Enquanto estava hospitalizado, internado em uma semi-UTI para se recuperar de outra cirurgia, Laudenor lembrou, com os olhos brilhando e o sotaque pernambucano, quando recebeu a comida da unidade de saúde. “Fiquei dominado por aquela visão. Não tinha ideia do que estava acontecendo comigo. A sensação de que comer é algo natural, que eu já tinha perdido”.
Foi uma pequena colher de mingau de milho de hospital que pôs fim a um longo caminho de batalhas e, ao mesmo tempo, trouxe sorrisos vitoriosos, com direito à publicação nas redes sociais como símbolo da premiação e de uma nova história que se inicia. Nessa segunda-feira, Laudenor pôde finalmente voltar para casa.
Foram 95 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Como precisou de traqueostomia, Laudenor não conseguia falar, nem se alimentar. Tampouco tinha força para alcançar um copo d’água. No hospital, o aposentado ainda enfrentou várias intercorrências.
Neste período, não faltaram também tentativas de diferentes abordagens e viagens para visitar médicos fora de Brasília. A família conseguiu um tratamento no qual a dieta corre na medida por uma bomba, meio a conta-gotas.
Lá estava o aposentado, mais uma vez, sujeito a uma máquina. “Ele é hiperativo. Mesmo aos 72 anos, está pensando no que vai trabalhar. Ele nunca se deu por vencido, muito pelo contrário. Fazia questão de ser independente. Ele mais cuida de mim, que eu cuido dele”, comenta Marconi.
Para quem estava acostumado a seguir “correntes favoráveis”, chegou a hora de desbravar outros mares. A partir daquele 15 de julho, voltar a comer significava retornar à qualidade de vida. “Fui me marginalizando e deixando a minha vida em segundo plano, apenas sobrevivendo”, descreve entre lágrimas. “Estar preso em uma máquina sem poder fazer nada, vendo meus filhos na luta diária. As pessoas me convidarem para a casa delas e não poder aceitar uma água, um café. Era triste ser reconhecido na rua como um mendigo, por conta da minha aparência”, completa com a voz embargada.
Ele nunca perdeu a força, a alegria, a garra. Mesmo com as adversidades, ainda brincava. É difícil descrever com palavras, é uma superação. Sempre permaneceu incentivando e apoiando a gente. A gente sabe que tem muita coisa para fazer, mas valeu uma vida. Pude estar ali e ver aquilo com meus próprios olhos, a face de Deus, um milagre acontecendo, o momento da mágica”, afirma Marconi.
“Quando me ligaram dizendo que ele tomou água com a boca, comecei a chorar. São coisas muito pequenas que mostram a força desse homem”, acrescenta Giovani.