Câmara recebe pedido de cassação da vereadora que ligou para tenente-coronel após ter carro guinchado

Morador pediu abertura de Comissão Processante para apurar quebra de decoro parlamentar no caso da Professora Daniela (PL), que pediu para não ter o carro guinchado em Marília (SP). Policial que fez a apreensão foi transferido.

A Câmara de Marília (SP) protocolou um pedido de abertura de Comissão Processante (CP) feito por um morador para apurar a conduta da vereadora Daniela D’Avila Alves, conhecida como Professora Daniela (PL), por causa da ligação que fez para a tenente-coronel da cidade pedindo para não ter o carro guinchado.

Depois de conversar com a vereadora, a oficial da PM Márcia Crystal ligou para o policial de trânsito que apreendeu o carro da política. Segundo o policial, o veículo foi apreendido porque estava com o licenciamento vencido e pneus gastos. O Comando da PM abriu um inquérito para apurar a conduta dos envolvidos.

Câmara de Marília protocola pedido de afastamento de vereadora que ligou para tenente-coronel após ter carro guinchado — Foto: TV Câmara/Arquivo
Câmara de Marília protocola pedido de afastamento de vereadora que ligou para tenente-coronel após ter carro guinchado

A conversa no telefone, na qual a tenente-coronel pede para que o PM não guinche o carro porque Daniela é vereadora e ameaça trocá-lo de função por não ter “bom senso”, viralizou nas redes sociais e causou polêmica na cidade. 

O presidente da Câmara de Marília, Marcos Rezende (PSD), informou que a casa recebeu pedido de instauração para apuração de quebra de decoro, que foi encaminhado para a Procuradoria Jurídica da Câmara.

Segundo ele, o documento passará por análise da procuradoria e, caso esteja dentro das formalidades, será colocado na pauta de votação da próxima sessão ordinária.

Conforme a denúncia protocolada na Câmara, a vereadora usou o cargo em benefício próprio para tentar não ter o carro apreendido, o que seria quebra de decoro parlamentar. No documento é pedido o afastamento da vereadora e, sendo procedente, a cassação do mandato dela após devida votação.

“Uma representante do povo, que, em tese, utilizou-se da sua condição de vereadora, para praticar ato de tráfico de influência, quebrando o decoro parlamentar, solicitando favor ilegal e imoral à uma servidora pública”, relata o morador no processo.

Após o parecer da Procuradoria da Câmara, o presidente irá colocar em votação para analisar a abertura de uma Comissão Processante. A expectativa é que essa votação aconteça já na próxima sessão, na segunda-feira (31).

A vereadora não vota nessa sessão e a presidência vota apenas em caso de empate. Portanto, para a abertura da CP é preciso a maioria absoluta, de 9 votos a favor. De acordo com a Câmara, caso aprovada, a investigação deve durar em torno de 90 dias, sendo possível a prorrogação por mais 90 dias.

A Câmara informou que ainda não tem informações sobre o conteúdo da ligação entre a vereadora e a tenente-coronel, mas pode pedir a quebra do sigilo telefônico, além do depoimento da vereadora, da filha dela e da comandante da PM.

Conversa no telefone

Na ligação, a tenente-coronel afirma que o policial pode ser transferido do setor  — Foto: TV TEM/Reprodução
Na ligação, a tenente-coronel afirma que o policial pode ser transferido do setor

Na ligação a que a TV TEM teve acesso, o policial explica que constatou que o carro da vereadora não tinha licenciamento e estava com os pneus gastos, motivo pelo qual decidiu abordar a filha dela, que dirigia o veículo, na Rua Carlos Botelho.

O policial informou, no áudio, que deu a oportunidade para que ela fizesse o pagamento via aplicativo, mas a jovem e o pai, que chegou ao local mais tarde, teriam dito que não tinham condições.

Depois de ouvir a história, a tenente-coronel pede para que o policial não ficasse “tumultuando” e diz que ele deveria ter apenas feito a orientação, sem apreender o carro.

“Porque isso daí é falta de bom senso, tá? Ela é vereadora. É, é, a condição, você pode muito bem estar fazendo e orientando, tá? E aí segunda-feira, ela pegaria o documento e não precisa apreender o veículo”, diz a tenente-coronel no áudio.

Em seguida, a comandante ameaça trocar o policial de setor se ele continuar agindo de tal maneira, já que ele teria desobedecido uma ordem superior.

“Se for desse jeito é o que eu to falando, você não vai estar mais segunda-feira no trânsito (…) porque essa aqui é uma ordem minha, você vai responder também”, continua a tenente coronel.

A conversa continua por mais alguns segundos e a tenente-coronel repete que o policial de trânsito deveria ter tido bom senso ao analisar a situação, já que a mulher é vereadora.

“Olha o que você tá causando, porque politicamente ela é vereadora. Não teve nem uma conversa, o que você está achando que você é?”, questiona no áudio.

O Comando do Policiamento do Interior da região de Bauru (CPI-4), ao qual é subordinado o Batalhão de Marília, informou que o policial que efetuou a apreensão não foi afastado, mas estava matriculado em um curso em São Paulo, agendado para o dia 24 de agosto.

Por causa disso, segundo a PM, ele não vai exercer suas atividades em Marília até a conclusão do curso em 4 de setembro. Depois disso, deve retornar às suas funções habituais.

“Após tomar conhecimento da gravação, o comandante regional instaurou inquérito policial militar para esclarecer todos os fatos que envolveram a apreensão do veículo e as condutas da comandante e do policial militar”, completou a corporação.

A vereadora Professora Daniela se manifestou por meio de nota. Ela disse que, “em nenhum momento seu telefonema para a comandante tenente-coronel Márcia Crystal teve o objetivo de praticar tráfico de influência” e que foi apenas para ver se havia a possibilidade de não ter o veículo apreendido.

Daniela comentou também que “não houve nenhuma indagação para que o referido militar fosse punido ao exercer suas funções” e que ficou preocupada com a filha. Além disso, informou que os pneus não estavam gastos.

Por fim, a vereadora afirmou que concorda com os procedimentos determinados pela legislação de trânsito e que “vai tomar as atitudes jurídicas para o caso, prezando pela verdade e justiça”.

FONTE: G1

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Cláudio Pissolito

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