Moradores em partes da Suíça acordaram espantados com a cor do céu com a chegada da poeira do Saara. É um fenômeno meteorológico bem conhecido que ocorre aproximadamente três vezes por ano no país, geralmente durante a primavera e o outono, mas que desta vez teve muito maior intensidade.
Esquiadores na Áustria e na Suíça encontraram a neve marrom com as pistas em estações de esqui e as montanhas dos Alpes cobertas por uma fina camada de poeira do Saara. O mesmo fenômeno foi observado nos Pirineus franceses. Em Londres, na Inglaterra, os veículos foram salpicados por uma chuva lamacenta.
As estimativas de modelos de computadores sugerem que, no centro da pluma, a quantidade de poeira na coluna atmosférica é igual a cerca de 5 gramas por metro quadrado. Em outras palavras, numa área de um metro quadrado seriam coletadas 5 gramas de poeira.
A poeira se origina na África central, entre Mali, Chade, Argélia e Sudão. Mais ao Sul, o deserto seco da África se transforma em uma faixa verde exuberante. Parte é até classificada como floresta tropical pela influência da chuva da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), um cinturão de ventos convergentes ao redor do equador e que despeja fortes chuvas durante todo o ano.
A poeira no Norte da África não é como a areia que se tem numa praia. É leve e em pó, semelhante em textura à maquiagem. Isso facilita que alcance partes mais altas da atmosfera. Fortes ventos alísios carregaram a poeira às vezes pelo Atlântico e que chega não raro nos Estados Unidos e na América Central, além do Caribe. Em 2020, uma nuvem de poeira apelidada de Godzilla mudou o céu do Caribe.
Agora, a poeira está sendo transportada para o Norte em vez de para o Oeste – que é o caminho tradicional – por um forte sistema de baixa pressão a Oeste da Península Ibérica, a tempestade Célia, que impulsiona a poeira pela Europa e deve levar o material particulado até a Noruega, Suécia e Finlândia antes de se dissipar. Parte da poeira do Saara pode chegar ao Ártico.
Uma imagem de satélite obtida pela NASA na terça-feira mostrava um redemoinho no sentido anti-horário na costa de Rabat, no Marrocos. Trata-se do centro de baixa pressão que impulsionou a poeira saariana para a Europa. A língua de poeira foi girada para Noroeste em torno do centro de baixa, levando muita poeira para Portugal, Espanha e França.
É um episódio excepcional de poeira do deserto do Saara que está sendo registrado desde a segunda-feira com o céu laranja ou marrom em cidades de Portugal, Espanha e outros países. A intensidade do fenômeno espanta e é descrito como o mais forte em várias décadas na região, trazendo paisagens impressionantes que mais se assemelham ao do planeta Marte em algumas cidades com o céu completamente alaranjado.
“É um evento de poeira do Saara como não se registrava na Espanha há décadas”, segundo o presidente da Associação de Geógrafos Espanhóis (AGE), o professor da Universidade de Alicante (UA) Jorge Olcina, em entrevista para a agência de notícias espanhola EFE. De acordo com o especialista, o fenômeno está atingindo hoje áreas do Sul ao Norte do país.
Outra consequência desta nuvem de areia é a piora da qualidade do ar. Várias estações de controle atmosféricos nas províncias de Múrcia, Alicante, Almería, Madrid, Albacete, Guadalajara, Segóvia, Ávila e Burgos, dentre outras, mostram na terça-feira que a qualidade do ar era “extremamente desfavorável” devido às partículas de PM10 em suspensão. A Espanha ontem era o país com pior qualidade do ar no mundo.
O QUE É A CALIMA?
A calima é um fenômeno meteorológico que ocorre na atmosfera. Sua principal característica é que possui um grande número de partículas de poeira e areia. Desta forma, também reduz a visibilidade. Quando cai com a chuva, traz “chuva de barro” ou “chuva de sangue”. Uma concentração tão alta destas partículas reduz a visibilidade, mas também pode causar outros danos aos seres humanos que o nevoeiro normal não causa.
É diferente do nevoeiro que se trata de condensação de partículas de água no ambiente. Esta formação literal de nuvens ao nível do solo pode ter vários impactos na condução devido à visibilidade reduzida. No entanto, não causa nenhum efeito à saúde. Simplesmente, a umidade no ambiente é maior.
A diferença entre a calima e o nevoeiro é justamente a composição das partículas que reduzem a visibilidade. Enquanto na neblina e no nevoeiro são partículas de água condensada formando nuvens, na calima são partículas de poeira, areia, cinzas e até argila.
As mudanças climáticas influenciam nestes episódios? Não é muito claro, embora seja um fato que nos últimos 100 anos o deserto do Saara aumentou sua superfície em 10% e que é uma fonte maior de partículas. Além disso, as mudanças climáticas favorecem a aridez e influenciam na frequência e intensidade de padrões climáticos como tempestades, que precisam do vento para carregar a poeira.
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Fonte: MetSul – Publicado o hyperlink o original https://metsul.com/incriveis-imagens-dos-alpes-cobertos-de-poeira-do-saara/?fbclid=IwAR0P-K2_gLhOnQPM5SkrzamCpxhPLLGXW_x3-VLZFXnEVoRBxg1B4U07EyQ .