Em 1998, os promotores curadores do Meio Ambiente do Ministério Público de Palmital e de Cândido Mota instauraram Inquérito Civil para apurar a necessidade de construção de escadas para peixes nas usinas hidrelétricas de Canoas 1 e 2, no rio Paranapanema, em construção nos dois municípios. O principal objetivo era a manutenção da piracema, subida dos peixes contra a correnteza para garantir a desova natural, pois desde a construção da usina de Salto Grande se verificava a morte de cardumes presos às pedreiras a jusante da barragem.
Os então titulares do MP das duas Comarcas, Fernando César Bolque, de Palmital, e Liliane Garcia Ferreira, de Cândido Mota, solicitaram laudos do IBAMA e do Instituto de Pesca de Piracicaba, que atestaram a importância das escadas para preservação da fauna aquática, principalmente das espécies nativas do rio. Com a vitória da tese conservacionista, as duas escadas foram construídas logo após a inauguração das usinas e, com o testemunho pessoal deste editorialista, que presenciou e fotografou a abertura da escada da barragem de Canos 1, em Palmital, foi registrada uma das mais belas cenas de subida imediata de milhares de peixes de várias espécies.
“…uma das mais belas cenas de subida imediata de milhares de peixes…”
Junto a técnicos em psicultura da Duke Energy, multinacional norte-americana que assumiu a administração de oito usinas hidrelétricas do rio Paranapanema, foi possível observar o chamado da natureza que proporcionou o espetáculo de beleza única, quando os peixes de pequeno porte começaram a subir pela correnteza das escadas, seguidos dos médios e, depois, dos maiores. Atraídos pelo ruído das águas descendo pela escada, semelhante ao das corredeiras, os peixes subiram em seguidos “voos”, movidos pelo instinto da sobrevivência pela reprodução.
Apesar do sucesso da iniciativa e da constatação de que as escadas possibilitaram a continuidade da migração dos peixes e, consequentemente, a manutenção das espécies de piracema, que poderiam sobreviver e se manter mais saudáveis com a reprodução natural, as escadas foram desativadas três anos depois. Sob alegação de que os dispositivos causavam efeito inverso, pois os peixes subiam e ficavam confinados na barragem seguinte, sem conseguirem retornar para completar o ciclo da desova, em vez de construir escadas nas demais barragens, decidiram pelo fim da solução inteligente ao abandonar as existentes, com vitória dos negócios sobre a natureza.
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