“…durante a leitura deste texto houve ao menos um caso de estupro registrado…”
Assim como os resultados do Censo 2022 mostram muitas surpresas, como o aumento da população em velocidade menor do que a prevista nos últimos 12 anos, o que fez com que as projeções do IBGE não fossem confirmadas, causando redução na população estimada, também outras estatísticas são surpreendentes, muitas delas pelo aspecto mais negativo. Segundo dados da 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgados na semana passada, em 2022 o Brasil registrou o maior número da história de casos de estupros, incluindo também a violência sexual contra vulneráveis, cuja soma chega a 74.930 vítimas.
Os números oficiais se referem aos casos de ocorrências informadas às autoridades policiais, indicando que a realidade pode ser muito mais dantesca, uma vez que muitas vítimas não registram queixas, envergonhadas ou ameaçadas pelos agressores, causando assim a chamada subnotificação. Entre os casos registrados, verifica-se crescimento de 8,2% na comparação com 2021, quando 68.885 ocorrências foram levadas ao conhecimento das autoridades e, consequentemente, incluídas nas estatísticas que servem de parâmetros para a adoção de políticas públicas de combate a este crime que atenta contra a dignidade humana.
Os 74.930 casos reconhecidos oficialmente representam cerca de 6.244 estupros por mês em 205 registros do crime feitos a cada dia, com mais de oito por hora, indicando que durante a leitura deste texto houve ao menos um caso de estupro registrado, mas sem qualquer informação dos crimes não notificados. O Anuário indica que são registrados 36,9 casos de estupro a cada grupo de 100 mil habitantes, o que leva à dedução de que em cidades do porte de Palmital, por exemplo, com cera de 20 mil habitantes, ao menos 8 casos são registrados a cada ano, além do número desconhecido de crimes não denunciados.
Se os números finais são elevados e assustadores, o detalhamento se mostra ainda mais perverso quando se sabe que 64,1% das vítimas são menores de 13 anos, pertencentes ao grupo de vulneráveis, justamente a parcela da população que mais sofreu com o aumento de casos, com 8,6% a mais do que no ano anterior. Diante deste cenário de crescimento dos casos de estupro, que acompanham o aumento dos homicídios e de vários outros crimes, chega-se à conclusão de que as políticas de segurança adotadas recentemente foram falhas e não surtiram efeito, fazendo aumentar a criminalidade.
