Envelhecimento é o acúmulo de estragos no organismo, diz cientista

Pesquisadores se reuniram em consórcio para criar biomarcadores confiáveis da velhice

Vadim Gladyshev, professor da faculdade de medicina de Harvard e do Brigham and Women´s Hospital, integra um projeto ambicioso, chamado Biomarkers of Aging Consortium, que reúne cientistas de 25 laboratórios e centros de excelência. O objetivo é estabelecer métricas mais precisas para quantificar o envelhecimento em todas as suas variáveis – porque, na verdade, ele não tem nada de homogêneo.

“A natureza nos apresenta uma enorme diversidade no que diz respeito à longevidade: temos células que são substituídas rapidamente, como as do intestino, e neurônios que duram a vida toda. A primeira questão é o que se entende por envelhecimento. Para mim, é o acúmulo de estragos no organismo. A diminuição da aptidão física, o declínio funcional, doenças e morte são decorrências desse quadro”, explicou em seminário on-line.

Gostei particularmente da expressão “acúmulo de estragos” (“damage accumulation”), porque transcende o conceito da idade cronológica. Cada indivíduo pode trazer, desde o nascimento, características que o protegem ou fatores de risco, mas nossa existência será impactada por uma série de decisões e circunstâncias, como estilo de vida, condições sociais e culturais e meio ambiente, que, somadas, vão compor nosso envelhecimento.

No laboratório que leva seu nome, o time de Gladyshev estuda o que classifica como “assinaturas de longevidade”: por que camundongos vivem três anos e há baleias que passam dos 200 anos? Os pesquisadores querem saber no que as espécies diferem e se assemelham.

“Sabemos, por exemplo, que uma situação de estresse severo, como uma grande cirurgia ou ter Covid-19, leva ao aumento da idade biológica. O mesmo acontece no terceiro trimestre da gravidez, que representa uma enorme demanda metabólica. Depois da recuperação, esse aumento da idade é reversível, mas, efetivamente, a mulher que deu à luz ficou mais velha naqueles últimos meses de gestação”, afirmou.

Entender o que nos envelhece pode resultar em “assinaturas de rejuvenescimento”, de medicamentos a intervenções genéticas, passando por dietas. Em sua exposição, Gladyshev relatou uma experiência com cobaias conhecida como parabiose, técnica que permite, através de junção cirúrgica, que dois organismos compartilhem um único sistema fisiológico:

“Durante três meses, mantivemos camundongos de três meses e de 20 meses unidos por parabiose. Depois de separados, foram monitorados e constatamos que o mais velho não somente tinha rejuvenescido, como se manteve assim. O processo foi muito além de uma transfusão de sangue, eles haviam trocado plasma e células”.

Na sua avaliação, a discussão não deveria ser tão centrada no papel dos genes (“gene-centric”): “trata-se de um sistema, corremos o risco de perder a visão do conjunto”. É aí que entra o consórcio que mencionei no começo. Nomes da linha de frente da ciência vão trabalhar juntos para mapear e validar os melhores biomarcadores do envelhecimento, como ponto de partida para testar intervenções que corrijam o “acúmulo de estragos” que comprometem a longevidade ativa. Em dezembro, o grupo realizará seu primeiro simpósio. Que venham os resultados de tantas mentes brilhantes!

Fonte: g1

Compartilhe
Facebook
WhatsApp
X
Email

destaques da edição impressa

colunistas

Cláudio Pissolito

Don`t copy text!

Entrar

Cadastrar

Redefinir senha

Digite o seu nome de usuário ou endereço de e-mail, você receberá um link para criar uma nova senha por e-mail.