Adolescentes que passam mais de 3h por dia no celular sofrem mais com dores na coluna, diz pesquisa

Estudo conduzido em Bauru (SP) também identificou alta prevalência de dor na coluna em estudantes do ensino médio.


Adolescentes que usam celulares ou tablets por mais de 3h ao dia sofrem mais com dores na coluna. É o que indica uma pesquisa conduzida em Bauru (SP) e publicada no início deste ano em uma importante revista científica internacional.

Segundo o estudo, jovens que usam equipamentos eletrônicos enquanto estão deitados de barriga para baixo ou sentados, ou que usam os aparelhos muito próximos dos olhos, também têm mais chances de apresentar essas dores.

O foco da pesquisa foi a chamada dor no meio das costas – também conhecida como TSP, sigla em inglês de para dor nas costas torácica. “Dor na coluna é uma forma genérica de chamar todo tipo de dor nas regiões cervical, dorsal e lombar”, diz Alberto de Vitta, pós-doutor em saúde pública pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu (SP) e um dos autores do trabalho.

De acordo com o pesquisador, a cervical é aquela região mais perto do pescoço, e a dor nesse local é chamada de cervicalgia. A dorsal, por sua vez, fica no “meio” das costas, onde estão ligadas as costelas. A dor na região é a dorsalgia. Já a lombar, mais conhecida é a parte inferior da coluna, acima das nádegas. A dor nessa região é a chamada lombalgia, ou dor na lombar.

Em 2017, Alberto e outros pesquisadores entrevistaram 1.628 estudantes do ensino médio de Bauru. Os alunos, de ambos os sexos e com idades entre 14 e 18 anos, responderam se haviam sofrido dor em alguma região da coluna nos últimos 12 meses e, se usavam dispositivos eletrônicos e com qual postura ficavam durante o uso.

Um ano depois, em 2018, 1.393 dos estudantes foram entrevistados novamente. Deles, 38,4% relataram apresentar dores na coluna tanto em 2017, quanto em 2018. Entre os dois anos, a incidência do problema no grupo de alunos foi de 10,1%, o que significa que mais adolescentes apresentaram incômodos com o passar do tempo.

A partir da avaliação, os pesquisadores concluíram que as dores na coluna podem ocorrer mais em meninas e em pessoas que convivem com problemas de saúde mental e utilizam celular e tablet por mais de 3h ao dia em posições inadequadas, como de barriga para baixo e sentada.

Distâncias menores que 20 centímetros entre olho e tela também foram outro fator relacionado à dor. Isso porque há maior flexão da coluna quando o rosto da pessoa está muito próximo dos dispositivos.

De acordo com as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS), o tempo máximo recomendado para se passar em frente a uma tela é de 2h por dia.

Esta é a primeira pesquisa desenvolvida na América Latina a avaliar a relação entre os dispositivos eletrônicos e a dor nas costas. O trabalho, segundo os autores, é importante porque crianças e adolescentes com dor nas costas usam mais os serviços de saúde, são mais inativos, apresentam baixo rendimento acadêmico e sofrem mais problemas psicossociais.

Além disso, boa parte dos fatores de risco associados ao problema pode ser evitada por meio de intervenções precoces. A ideia é que pesquisas como essa sirvam como base para ações de prevenção nas escolas. “Podem ser feitos programas educacionais para os escolares, pais e professores. Também podem ser feitos programas de exercícios posturais para esses alunos”, diz Alberto.

TSP

A dor na coluna é comum em vários grupos etários e em toda a população mundial. Estima-se que o TSP afete de 13% a 35% das crianças e adolescentes e 15% a 35% dos adultos.

Segundo a ciência, os fatores de risco associados podem ser físicos, fisiológicos, psicológicos e comportamentais – ou todos combinados. Há também fortes evidências de que a coluna vertebral pode ser afetada pela prática de atividade física, pelo comportamento sedentário e pela saúde mental.

Por causa da pandemia de Covid-19, que fez com que as pessoas se tornassem mais conectadas a dispositivos como celulares, tablets e computadores, é possível que a incidência do problema seja agravada. “Podemos supor que [a incidência] aumentou, devido à atividade escolar em casa, no entanto, não há dados sobre isso”, pondera Alberto, que está organizando um estudo multicêntrico sobre o assunto.

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Fonte: G1

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