Alternativas sem proibição

“…é preciso ponderação nas formas de se fazer mudanças, que devem ser graduais…”

 

O projeto de lei apresentado pelo vereador Dr. Eduardo Vasconcellos, de proibir a circulação de veículos de tração animal na cidade retrata de forma explícita as muitas medidas drásticas adotadas pelo poder público em suas várias instâncias. Seguindo o velho ditado de “matar a vaca para acabar com o carrapato”, o projeto prevê apenas a proibição, sem entrar no mérito da tradição, da profissão, da cultura e do trabalho digno exercido e do uso desse meio de transporte por sitiantes e chacareiros. Em vez de simplesmente acabar com uma atividade, o mais sensato é propor alternativas.

Em grandes cidades do Brasil e do mundo, incluindo São Paulo, o trabalho de coleta de recicláveis e de transporte barato com o uso de carroças e charretes ainda resiste em meio ao moderno e rápido sistema metroviário e de corredores de ônibus. Em outras cidades e capitais, governos e prefeituras estão oferecendo alternativas aos trabalhadores de baixa renda com a oferta de triciclos e quadriciclos movidos a pedal e acoplados a reboques de gaiolas para transporte de materiais diversos. Quando o serviço é feito por empresas que contratam os trabalhadores, é possível incluir os triciclos elétricos como alternativas.

Enquanto países mais ricos e civilizados, incluindo a China emergente, começam a rejeitar os veículos automotores como principais meios de transporte, no Brasil ainda se investe em vias rodoviárias urbanas e para transporte de carga e nas cidades destina-se os mais nobres espaços para estacionamento de automóveis. Nas topografias planas, como a de Palmital, o uso de automóveis e camionetes se torna contrasenso pela possibilidade de incentivo às bicicletas e também às caminhadas que, além de reduzir acidentes e poluição, combate o sedentarismo e melhora a saúde da população.

É obvio que a intenção do vereador, de proteger os animais de maus tratos, deve ser considerada como de muita sensibilidade, mas é preciso ponderação nas formas de se fazer mudanças, que devem ser graduais e planejadas. O simples incentivo a outras formas de transporte, a doação ou o financiamento público, pelo Banco do Povo, por exemplo, para aquisição de outros meios de transporte, assim como o incentivo ao uso de bicicletas com a criação de bolsões de estacionamento com suportes (paraciclos) para bicicletas, somado a um projeto de arborização coerente e algumas ciclovias, podem transformar a cidade em exemplo nacional.

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