Alunos fazem protesto contra professor que disse que vítima de estupro pode ‘colaborar’ com crime

Fotos de perfil foram trocadas por imagem que simboliza o feminino e critica o posicionamento da universidade de Ourinhos (SP). Carta de estudantes enviada à reitoria pede afastamento do professor, que se desculpou e disse que foi “infeliz” ao falar que comportamento da vítima “colaboraria” com o estupro.

Alunos de curso de direito em Ourinhos pedem afastamento de professor após declaração

Estudantes do curso de direito de uma universidade particular de Ourinhos (SP) fizeram um protesto contra o professor que fez declaração sobre vítimas de estupro durante uma aula online na última terça-feira (13).

O vídeo em que o professor diz que comportamento de vítima de estupro pode “colaborar” com o crime viralizou nas redes sociais e causou a revolta de muitos internautas, além dos próprios estudantes.

Os alunos substituíram a foto de perfil que aparece na plataforma de aulas virtuais por uma imagem que lembra o símbolo do feminino e a frase “Unifio Conivente”, em crítica também ao posicionamento da universidade em relação ao caso. O protesto teve adesão de estudantes de outros cursos, entre eles, os alunos de psicologia.

Estudantes substituíram a foto do perfil por imagem de protesto em Ourinhos — Foto: Arquivo pessoal
Estudantes substituíram a foto do perfil por imagem de protesto em Ourinhos — Foto: Arquivo pessoal

Em carta aberta divulgada na página da Associação Atlética Acadêmica de Direito FIO no Facebook, os alunos pediram o afastamento do professor Fábio Alonso, que também é coordenador do curso de direito da universidade.

Ao G1, um dos alunos, que pediu para não ser identificado, disse que até o momento a universidade não deu um posicionamento aos estudantes.

Ainda segundo ele, depois que o vídeo viralizou eles ainda não tiveram aula online com o professor, somente atividades estão sendo propostas para a disciplina dele na plataforma.

G1 também questionou a universidade sobre o conteúdo da carta dos estudantes, mas não obteve resposta. Sobre o caso, o Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos (Unifio) publicou uma nota no site da instituição:

“A Unifio esclarece que repudia qualquer tipo de discriminação ou ato de preconceito, seja por deficiência física ou mental, cultura, religião, nacionalidade, raça, classe social ou identidade de gênero. Assim, após tomar conhecimento da divulgação do ocorrido pelas redes sociais, a Unifio está apurando os fatos para análise de eventual necessidade de adoção de providências, sempre respeitando o devido processo legal e os princípios do contraditório e da ampla defesa.”

Ainda na nota publicada, a universidade disse que irá propor um workshop para debater o tema com profissionais da área e a comunidade, com o intuito de promover mais conhecimento e cumprir com o seu papel educacional.

Na carta aberta, os alunos também manifestam o descontentamento com a reitoria da universidade que, segundo eles, teria “lavado as mãos” e deixado para os próprios resolverem a questão.

Os estudantes ainda ressaltam que comentários preconceituosos e machistas são recorrentes na aula do professor. Em entrevista ao G1, uma ex-aluna disse que o professor Fábio costumava sempre “soltar alguma pérola” durante os exemplos dados em sala de aula.

De acordo com a advogada, que preferiu não se identificar, as alunas costumavam se incomodar com as declarações do professor, mas alguns estudantes riam e apoiavam as falas do docente.

Professor Fábio Alonso, de uma universidade particular de Ourinhos (SP) — Foto: Reprodução/TV TEM
Professor Fábio Alonso, de uma universidade particular de Ourinhos (SP) — Foto: Reprodução/TV TEM

‘O que é mais fácil estuprar?’

O vídeo que causou indignação e repercutiu nas redes sociais na sexta-feira (16) faz parte de uma aula online de direito penal da Unifio, na qual o professor diz aos alunos:

“Vamos pensar: o que é mais fácil estuprar? Uma freira de hábito ou aquela menininha com a cinta larga? Fala para mim. Que vítima colabora mais com a prática do crime de estupro? Eu estou falando em tom de brincadeira, mas eu quero que vocês imaginem isso.”

Professor de direito falou sobre estupro de mulheres em aula online em Ourinhos
Professor de direito falou sobre estupro de mulheres em aula online em Ourinhos

Segundo um dos alunos ouvidos pela reportagem do G1, a declaração ocorreu durante uma aula online na terça-feira (13). De acordo com ele, o professor usou a frase para exemplificar um assunto da disciplina em relação ao que se leva em consideração para chegar à pena do condenado.

Em outro momento do vídeo, durante a explicação, o professor também disse:

“Quem apanha mais? Não estou dizendo que isso tem feito, estou falando para vocês, vamos ser realistas. Quem apanha mais? A mulher passiva, que fica quietinha, que vê quando o marido chegou de cara cheia, ou aquela que começa ‘ai, bebeu de novo, trabalhar que é bom você não quer, né seu vagabundo?’ Quem apanha mais? A quietinha ou a bocuda?”, declarou no vídeo.

Nas redes sociais, usuários reprovaram a atitude do professor. “Meu Deus, eu estou com o coração acelerado vendo esse vídeo”, comentou uma internauta. “Repúdio e responsabilização”, disse outro usuário.

Declaração de professor em aula online em Ourinhos repercutiu nas redes sociais — Foto: Facebook/Reprodução
Declaração de professor em aula online em Ourinhos repercutiu nas redes sociais — Foto: Facebook/Reprodução

“Fui infeliz”

Em entrevista ao TEM Notícias, o professor, que é delegado aposentado e coordenador do curso, disse que foi infeliz ao usar o exemplo do crime de estupro.

“Eu gostaria de me retratar e de pedir desculpas às pessoas que tiveram acesso ao vídeo, porque fui infeliz no exemplo que foi dado”.

Fonte: G1

Compartilhe
Facebook
WhatsApp
X
Email

destaques da edição impressa

colunistas

Cláudio Pissolito

Don`t copy text!

Entrar

Cadastrar

Redefinir senha

Digite o seu nome de usuário ou endereço de e-mail, você receberá um link para criar uma nova senha por e-mail.