Ambientado em favela e com Jesus e Maria negros, presépio chama a atenção para a luta contra o racismo

O que você pensaria se soubesse que Jesus e Maria eram negros? Se você visitar o presépio montado na Paróquia de Santa Rita de Cássia, no Jardim Aviação, em Presidente Prudente (SP), é assim que irá ver as imagens que representam a Sagrada Família na celebração do Natal.

Diante do cenário atual, de combate ao racismo e com a intenção de mostrar que todas as pessoas são iguais perante o amor de Deus, a paróquia buscou representar a humanidade como ela é, de fato, através do presépio deste ano.

A ministra da Pastoral da Saúde e responsável pela montagem do presépio em 2020, Regina Turino, contou que a intenção é de colocar cada pessoa frente a frente com o inusitado, como se fosse um espelho.

Presépio é montado com Jesus e Maria negros na Paróquia de Santa Rita de Cássia — Foto: Regina Turino/Cedida

“Além de causar um posicionamento nos fiéis, isso fará com que se conheçam. Prova disso é uma pessoa que, ao ver o presépio, nos questionou: ‘Por que não deixar normal?’. Pouco tempo depois, a mesma pessoa se avaliou por seu comentário: ‘Como sou preconceituosa'”, explicou Regina.

Além das cores das peles diferentes, o presépio ainda tem como fundo imagens que representam uma favela.

“Se Jesus nascesse nos dias de hoje, com certeza seria possível que fosse em uma favela, até porque é o que mais condiz com a realidade de quando ele veio ao mundo, de fato. Sem luxo, no meio dos pobres e dos pecadores”, acrescentou.

Cenário atual

A responsável pelo presépio também disse ao G1 que, quando os fiéis da comunidade católica optaram por representar Jesus e Maria negros, foi principalmente por conta do cenário atual em que o mundo se encontra, onde há pessoas que lutam contra o racismo e outras argumentam que o racismo não existe.

Presépio é montado com Jesus e Maria negros na Paróquia de Santa Rita de Cássia — Foto: Aline Costa/G1

“Por isso a questão do posicionamento. Diante do que isso despertar em cada um, vai ser possível que todos se conheçam e descubram no que acreditam”, ressaltou.

Regina contou que Jesus nasceu conforme o ambiente em que vivia há 2020 anos, que não existem comprovações da cor de sua pele e que apenas se pode deduzir que ele tivesse as características de seu povo.

“Nós não podemos nos esquecer de que a padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, é negra. E isso é justamente para provar que ela existe para resgatar os negros, os pobres e a minoria, que são oprimidos. Nosso presépio também quer resgatar essas pessoas, para que todos percebam que ninguém é diferente de ninguém. A ideia tem esse poder de colocar as pessoas diante de um espelho, de um Deus que ama a todos igualmente”, falou.

Presépio é montado com Jesus e Maria negros na Paróquia de Santa Rita de Cássia — Foto: Regina Turino/Cedida

No meio dos pobres…

Montar o presépio já virou tradição entre as famílias e igrejas católicas. A ação simboliza a preparação que antecede a comemoração do nascimento do menino Jesus, em celebração ao dia de Natal.

Neste ano, na Paróquia de Santa Rita de Cássia, Regina contou que o objetivo era retratar esse cenário da maneira mais real possível.

Presépio é montado com Jesus e Maria negros na Paróquia de Santa Rita de Cássia — Foto: Aline Costa/G1

“Jesus não nasceu no luxo e o presépio deve representar o seu nascimento. Ele nasceu no meio dos pobres, pecadores e oprimidos. O presépio deste ano quer justamente representar todo aquele que é diminuído. Sempre que um negro morre pela cor da sua pele e pelo preconceito, é Jesus morrendo de novo”, disse.

A ação, conforme a responsável pela montagem do presépio, não tem nenhuma ligação direta com o movimento “Vidas Negras Importam”, porém, diante do cenário atual, tudo acaba sendo referência e está interligado.

Presépio é montado com Jesus e Maria negros na Paróquia de Santa Rita de Cássia — Foto: Aline Costa/G1

“O presépio tem de refletir o que é a comunidade. Buscamos restaurar os detalhes das imagens, para que tivessem a representatividade o mais correta possível. Um dos reis magos, além de Jesus e Maria, também representa o negro”, acrescentou.

A imagem do menino Jesus ainda não está no presépio montado na paróquia, pois, de acordo com a tradição católica, ele só será colocado na manjedoura à 0h do dia 25 de dezembro, data atribuída ao seu nascimento.

Aprovação

Regina ainda contou que, quando surgiu a ideia de fazer a montagem do presépio com essa representação, entrou em contato com o padre Altino Brambila, responsável pela Paróquia de Santa Rita de Cássia, e ele “gentilmente” aprovou.

Presépio é montado com Jesus, Maria e um dos reis magos negros na Paróquia de Santa Rita de Cássia — Foto: Aline Costa/G1

“Não houve empecilhos, Deus realmente queria que fosse dessa forma”, pontuou Regina.

O padre Altino Brambila disse que a ideia tem total ligação com tudo o que está acontecendo atualmente e, por isso, deveria ser colocada em prática.

“Primeiro, porque ninguém sabe como eram de fato os rostos de Jesus e Maria e, depois, para lembrar à humanidade que Deus é justo com seu povo independente de raça ou cor. No presépio, é isso que está expresso. O amor de Deus é soberano”, concluiu o padre.

Fonte: G1

Compartilhe
Facebook
WhatsApp
X
Email

destaques da edição impressa

colunistas

Cláudio Pissolito

Don`t copy text!

Entrar

Cadastrar

Redefinir senha

Digite o seu nome de usuário ou endereço de e-mail, você receberá um link para criar uma nova senha por e-mail.