A Apae de Bauru (SP) informou, em nota divulgada na quarta-feira (28/08), que o funcionário do almoxarifado Dilomar Batista, envolvido no desaparecimento da secretária executiva Claudia Lobo, foi imediatamente demitido após a Coletiva de Imprensa realizada pela Polícia Civil na segunda (26/08).
Dilomar foi ouvido pela polícia na última sexta (23/08) e confessou que ajudou a queimar o corpo de Claudia sob ameaça de Roberto Franceschetti, o então presidente da instituição e o principal suspeito do assassinato da secretária.
Em coletiva de imprensa realizada no dia 22 de agosto, a presidente interina da Apae, Maria Amélia Moura Pini Ferro, confirmou que o funcionário tinha sido afastado assim que a entidade tomou conhecimento das investigações sobre ele e que Roberto Franceschetti também já não fazia mais parte do corpo diretivo da entidade.
Ainda segundo a instituição, Dilomar foi funcionário do dono da área onde teriam sido feito descartes de documentos da entidade no dia do desaparecimento de Cláudia e tinha um acordo com o proprietário para descarte de materiais na área.
“A Diretoria informa ainda que esta, como outras ações necessárias à administração deste momento crítico, serão advindas conforme avançam o conhecimento e constatação de autoria e materialidade, levantadas, tanto na sindicância interna, como nos autos de investigação da autoridade policial, com profissionalismo e ética, evitando a tomada de decisões no campo da especulação”, completa a nota.
Defesa de Roberto nega envolvimento
Coletiva de imprensa da defesa de Roberto Franceschetti Filho realizada na manhã desta terça-feira (27). — Foto: Vitória Navarro/94fm
Durante coletiva de imprensa realizada na manhã de terça-feira (27/08) em Bauru, a defesa do então presidente da Apae suspeito de envolvimento no desaparecimento da funcionária Cláudia Regina da Rocha Lobo, afirmou que Roberto Franceschetti é inocente e não cometeu nenhum crime.
As alegações da defesa vão contra os indícios apresentados pela Polícia Civil durante coletiva na segunda-feira (26), que confirmou o assassinato da funcionária pelo então presidente.
A defesa se posicionou contra a afirmação de que Roberto teria confessado, seja de maneira formal ou informal, o assassinato de Claudia Lobo. Além disso, o advogado Leandro Pistelli afirma que a rota apresentada pela Polícia Civil, baseada na movimentação do sinal de celular captada por torres, não é precisa para confirmar a posição do suspeito no local de descarte, onde fragmentos de ossos foram encontrados – que ainda seguem em análise para confirmação do DNA.
O caminho apresentado pelo advogado, baseado no depoimento do então presidente, é de que Claudia Lobo teria se encontrado com Roberto Franceschetti na avenida Nuno de Assis, que o suspeito entrou no carro com a funcionária para seguirem até o local em que eles realizam a troca de assentos no carro (registrado por câmeras de segurança) e, de lá, foram até o bairro Mary Dota para Claudia realizar um pagamento a um familiar que precisava dinheiro.
Depois disso, Leandro Pistelli afirma que Roberto e Claudia voltam até a avenida Nuno de Assis e eles seguem caminhos diferentes: o suspeito volta a dirigir seu carro, segue para um posto de gasolina e vai até a Apae para uma reunião com um funcionário.
O advogado afirma que supostas imagens de câmera de segurança que confirmariam o caminho dito por Roberto ainda serão solicitadas formalmente aos locais onde ele teria passado.
“Para nós, da defesa, pelo o que nós apuramos e pelo o que tivemos acesso, é impossível apontar que foi ele que matou a Claudia e que a morte se deu dentro do veículo, até porque, no laudo que foi feito no veículo, a quantidade de sangue encontrada é em pequena quantidade e não há perfuração de arma de fogo em nenhum lugar do veículo”, afirma.
A defesa de Roberto também entrou, na quarta (28/08), com um pedido de revogação da prisão preventiva do então presidente da Apae e aguardam o parecer da Justiça.
Os próximos passos da defesa será, em momento oportuno, entrar com uma investigação defensiva com um terceiro perito. Além disso, a defesa alega que é um caso de desaparecimento e não homicídio, pois as provas apresentadas pela perícia ainda não confirmam que a ossada encontrada é da Claudia.
Rumo das investigações
Polícia Civil fez uma coletiva de imprensa para atualizar as informações sobre o caso da funcionária da Apae de Bauru — Foto: Paulo Piassi/g1
A Polícia Civil também relatou que Roberto, antes de ser investigado como principal suspeito do crime, tentou guiar as investigações para um possível familiar de Cláudia que foi preso por tráfico e afirmou que a secretária estava arcando com dívidas do familiar.
A coordenadora financeira da Apae confirmou que Roberto liberava “adiantamentos”, que eram lançados como pagamentos para fornecedores, para Cláudia.
O computador da vítima foi periciado. Nele foram encontradas planilhas de contabilidade pessoal de Cláudia, com indicações de inconsistências financeiras, inclusive com valores em aberto em relação a Roberto.
“Diante disso, em diligências visando a coleta de material genético da desaparecida, apreendemos também o seu notebook, além da quantia de R$ 10 mil em espécie que havia sido deixada por Claudia na casa da filha” , consta no documento que relata a cronologia das investigações.
Polícia confirma assassinato
Durante a coletiva desta segunda, a Polícia Civil confirmou que a funcionária da Apae de Bauru foi assassinada.
As investigações indicam que Cláudia foi morta por apenas um tiro, disparado por Roberto, no carro da entidade, antes de o veículo ser abandonado na região do bairro Vila Dutra
Imagens de uma câmera de segurança mostram o presidente saindo do banco de passageiros e assumindo o volante, enquanto Cláudia vai para o banco traseiro. O carro permaneceu estacionado por três minutos, momento em que, segundo a Polícia, Roberto disparou contra Cláudia.
Polícia Civil confirma que funcionária da Apae desaparecida foi assassinada — Foto: Polícia Civil/Divulgação
“O Roberto sai do banco do passageiro e assume a direção, indo a Cláudia para o banco de trás, tranquilamente, sem nenhum tipo de ameaça ou pressão. Esse veículo fica parado por cerca de três minutos. Para nossa investigação, é nesse momento que acontece o disparo, porque, daí, ele já sai direto para a região rural do bairro Pousada da Esperança” , explicou o delegado Cledson do Nascimento.
Após o crime, Roberto teria acionado Dilomar Batista, funcionário do almoxarifado da Apae, a quem ele teria ameaçado para ajudá-lo no descarte do corpo. Dilomar foi ouvido pela polícia na tarde de sexta-feira (23/08) e confessou que ajudou a queimar o corpo de Claudia sob ameaça de Roberto.
O funcionário relatou que o corpo foi incinerado em uma área de descarte usada esporadicamente pela Apae e disse que, quatro dias depois, voltou para espalhar as cinzas em áreas de mata ao redor do local.
No dia do crime, Dilomar, então assumiu o veículo que Cláudia dirigia e o abandonou na região da Vila Dutra, de onde ele e Roberto partiram em outro veículo da instituição.
Corpo foi descartado e queimado por quatro dias em uma área rural de Bauru (SP) — Foto: Polícia Civil/Divulgação
Ossada encontrada
Um laudo preliminar apontou que fragmentos de ossos humanos foram encontrados durante as buscas feitas na área rural de Bauru.
Os fragmentos seguem em análise no Núcleo de Biologia de São Paulo, para confronto com as amostras de DNA já recolhidas do veículo, de pertences pessoais da vítima e da filha de Claudia.
Claudia tem 55 anos e desapareceu após sair com o carro da Apae, onde trabalha em Bauru — Foto: Facebook/ Reprodução
Em coletiva à imprensa, a Apae confirmou que a área rural onde foram feitas buscas foi utilizada algumas vezes para descarte de material da Apae, inclusive no dia em que Claudia desapareceu, mas que isso só foi descoberto após uma sindicância interna. Também disse que os descartes acontecem exclusivamente nos ecopontos da cidade.
Durante as mesmas buscas, a polícia encontrou os óculos da funcionária, objeto que foi reconhecido por parentes dela.
O exame balístico confirmou que um estojo de pistola calibre 380 encontrado dentro do veículo no qual a funcionária da Apae de Bauru foi vista pela última vez foi disparado pela arma apreendida na residência do ex-presidente da associação.
Polícia retornou à delegacia após realizar diligências em propriedade rural de Bauru (SP) — Foto: TV TEM/Reprodução
Mais de uma semana depois do desaparecimento de Claudia, um sinal de celular confirmou que Roberto esteve no local onde o carro da entidade usado por ela foi encontrado.
Oficiais da 3ª Delegacia de Homicídios de Bauru analisaram imagens de câmeras de segurança que mostram a vítima no volante do veículo que dirigia quando foi vista pela última vez.
O documento também menciona que o histórico de chamadas do celular de Roberto mostra movimentações na rodovia SP-321, que liga Bauru a Arealva, e no local onde o veículo foi encontrado, no dia seguinte ao desaparecimento.
Imagens de uma câmera de segurança, divulgadas pela Polícia Civil, mostram também o veículo que a funcionária da Apae dirigia circulando próximo ao local onde ele foi encontrado, no dia seguinte.
Um dia após ser preso, Roberto teve a prisão temporária de 30 dias decretada na audiência de custódia e foi levado para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pirajuí e depois transferido para o CDP de Bauru.
Fonte: g1
Presidente da Apae presta depoimento à polícia e diz não ter envolvimento no desaparecimento de funcionária — Foto: Gabriel Pelosi/TV TEM