Aposentados se preparam para Natal sem o 13º salário do INSS

Reencontrar a família, compartilhar o preparo da ceia e organizar a tradicional troca de presentes está fora dos planos de muitos aposentados e pensionistas, e não apenas por causa pandemia. Neste ano, os beneficiários não terão a gratificação extra do INSS no Natal.

O 13º, que normalmente é pago no segundo semestre, foi antecipado em abril e maio, para ajudar a economia na crise provocada pela pandemia da Covid-19. A segunda parcela chegava entre o final de novembro e início de dezembro. Agora, sem o abono, esses brasileiros estão revendo como passar o final de ano.

A aposentada Lucimara de Souza, 51 anos, de Penápolis (479 km de SP) sempre usou a segunda parcela do seu 13º do INSS para viajar até Ribeirão Preto (313 km de SP) e visitar os filhos. Neste ano, vai ficar em casa, com a mãe, de 85 anos.

“A antecipação usei sem perceber. Comprei medicação e, para evitar o transporte público na pandemia, estou pegando Uber”, relata à reportagem.

“Já foi um ano tenebroso. Aí chega no final do ano, você espera rever a família, ter dinheiro para comer algo melhor. Se não tiver o 14º, não posso viajar”, diz.

A aposentada Regina Kulzar da Silva, 54 anos, do Butantã (zona oeste), também aguarda a aprovação do salário extra para fazer planos. “Usei toda a antecipação e a nova margem dos 5% [do consignado] para pagar dívidas com serviços de saúde. Eu poderia quitar mais alguma dívida se aprovassem.”

“Vai ser uma ceia bem simples. Pagando o consignado sobra quase nada”, conta.

Para a aposentada Sueli de Fátima Bueno, 57 anos, este Natal será sem troca de presentes. “Eu adoro presentear nessa época, mas vamos partir para um amigo ladrão mesmo. Assim dá para se divertir. Está tudo muito caro e sem o 13º, aí que não vai rolar”, afirma.

Antecipação quitou parte das dívidas, contam beneficiários

Com a crise, grande parte dos aposentados usou o 13º salário antecipado para quitar dívidas, sem conseguir salvar algum valor para o final de ano.

Todo ano, a pensionista Ezerlangia Bandeira Bezerra de Souza, 39 anos, de Guaribara (CE), aguarda a gratificação de Natal para comprar sapatos para ela, o marido e os quatro filhos. Em 2020, será diferente. O valor que recebeu no primeiro semestre foi usado para pagar contas de luz em atraso e fazer compras na farmácia e no mercado.

“Eu peguei a Covid e fiquei 21 dias internada. Tive lesão no pulmão e estou em tratamento. Gastei um bocado, pedi ajuda a irmãos. Estou endividada com a farmácia, só comprando o básico”, afirma.

“Esse antecipado foi bom, mas eu preferia que tivesse vindo em dezembro, porque passamos o ano planejando”, diz Ezerlangia.

O aposentado por invalidez Manoel Neves dos Santos, 30 anos, de Icapuí (CE), também usou o abono com remédios e conta que, agora, a grana fará falta para abastecer a geladeira.

“É a época que podíamos comprar uma galinha ou um peru”, diz Santos, que sustenta dois filhos pequenos e a esposa com R$ 1.045.

Para a aposentada Mary Iglesias, 61, que mora em São Paulo e acertou as mensalidades escolares dos dois netos com o 13º antecipado, o desafio será pagar as rematrículas sem a renda extra em novembro. “Se antes era peru, agora vai ter que ser franguinho na ceia.”

“Aposentado no Brasil é quase santo por conseguir sobreviver. Ninguém lembra de nós. Estamos sempre à margem de tudo”, diz Mary.

Fonte: Agora

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