As drogas e a polícia

Sem qualquer estudo e muito menos alguma estatística confiável, é possível constatar que grande parte do tempo e dos recursos alocados na Segurança Pública são utilizados no combate ao tráfico e ao consumo de drogas, uma atividade lucrativa que também alicia parte do efetivo policial.

Com baixa qualificação, sem preparo físico e mental, muito menos treinamento e recebendo salários indignos, os agentes que enfrentam as dificuldades da função policial repressiva ou de investigação estão sujeitos a muitas críticas, a muitos riscos e também à cooptação dos traficantes cada vez mais poderosos.

Diante da dicotomia de uma força policial cujos agentes fazem bicos em horários de folga para garantir o mínimo de conforto à família, que sempre moram nos bairros mais pobres e são recompensados por comerciantes que buscam atendimento preferencial, a farda deixa de ser símbolo de autoridade para se tornar marca de servilismo.

O descaso das autoridades e dos comandos para com a segurança faz com que os policiais em campo atuem muito mais pelo medo, as vezes pela vingança ou apenas para cumprir o horário do plantão, pois sabem que o esforço adicional não soluciona as questões crônicas que vivenciam nas ruas.

“…apreensão de drogas todos os dias não protege a sociedade e não elimina o tráfico…”

Em vez de investir no combate às drogas, que muitas vezes serve apenas para punir os pobres e pequenos traficantes, já que os barões da atividade são intocáveis e muitos estão encastelados nos próprios órgãos públicos, o mais sensato seria atuar contra o roubo, o furto e o sequestro, que de fato alimentam essa atividade.

Afinal, fazer apreensão de drogas todos os dias não protege a sociedade e não elimina o tráfico e muito menos o consumo pois, muito ao contrário, inflaciona o preço do produto ilegal que continua produzido, comercializado e consumido em todas as classes sociais e econômicas.

Enquanto as forças policiais estão orientadas a perseguir pequenos traficantes, usando tempo de investigação para apreender menores e retirando uma ínfima parte do produto de circulação, a violência contra as pessoas e o patrimônio cresce e assusta a população descrente da segurança.

Rastrear e bloquear recursos financeiros dos líderes do tráfico, punir exemplarmente os roubos e furtos, elevar ao máximo a pena para sequestros e golpes financeiros pode ser a solução para enfrentamento ao crime organizado, que será asfixiado financeiramente e não poderá corromper policias e autoridades corruptas.

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Cláudio Pissolito

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