Agentes penitenciários impediram policiais de capturar detento do semiaberto após assalto
Pode parecer piada de mau gosto, mas é real e aconteceu no Vale do Sinos, na noite da última quarta-feira (9). Depois de assaltar um bazar em Sapiranga e balear o dono de 74 anos, qual o lugar escolhido pelo criminoso para se livrar da prisão em flagrante? Justamente o presídio. No Instituto Penal de São Leopoldo, onde cumpre pena no semiaberto, o ladrão ficou protegido dos policiais, que o identificaram e foram atrás para prendê-lo. Os agentes penitenciários de plantão proibiram a captura, sob argumento de que não havia mandado, e o assaltante fugiu durante a madrugada, possivelmente pelo muro. O caso escancara a impunidade gerada por um sistema falido.
“Era uma situação de flagrante. Portanto não havia necessidade de mandado”, declara o delegado de Sapiranga, Fernando Pires Branco, visivelmente contrariado. “Vou pedir as prisões e vamos atrás dessa gente de novo.” Ele revela que, além do apenado Douglas Almeida da Silva, 26, de Parobé, foi identificada uma mulher que fazia a chamada “segundinha”.
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Os policiais encontraram uma câmera de vigilância nas imediações da loja e perceberam que uma suspeita transitava na frente durante o assalto. “Também apareceu um Gol azul. Pela placa, vimos que o veículo é desta mulher, que consta no sistema como companheira e visitante do apenado. Ela aguardava o detento e um comparsa que ainda não conseguimos identificar”, revela o delegado. Os autores serão indiciados por latrocínio tentado.
Estado contra o Estado
O assaltante saiu livre do roubo porque uma instituição do Estado peitou outra, dentro da tradicional falta de integração entre elas. “Nossa investigação não deixou dúvida de que foi esse apenado. Só não conseguimos o resultado da prisão por empecilhos impostos por outro órgão. Essa situação tem que ser revista para que não se repita tal impunidade”, diz Branco. A reportagem entrou em contato com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), mas ela não havia se manifestado até o fim da noite de quarta.
Dois guardas para 185 apenados e forte cheiro de maconha
Com a identificação e provas colhidas contra o apenado, como o reconhecimento da vítima, os policiais foram ao presídio de São Leopoldo. Já era noite. Havia dois agentes penitenciários para cuidar de 185 detentos, em ambiente com forte cheiro de maconha. Eles disseram que não tinham autorização judicial para entregar o preso. Houve discussão. E os policiais retornaram a Sapiranga sem conseguir consumar o flagrante.
“Nossa equipe foi ágil em ir ao local do crime e rapidamente identificar o autor de um fato grave, com vítima baleada e hospitalizada. Mas o que iríamos fazer? Não dava para arrombar a porta do presídio”, comenta o delegado.
Era para estar no serviço externo
O condenado tinha carta de emprego para trabalhar durante o dia e voltar no fim da tarde ao presídio para jantar e dormir, como milhares de apenados no País. Na quarta-feira, pelo menos, ele foi assaltar. Se tivesse sido preso em flagrante, automaticamente regrediria ao regime fechado. Possivelmente por imaginar que isso poderia vir a acontecer, resolveu fugir. Na conferência da manhã, já não estava mais na galeria. Teria sido ajudado por colegas do crime a saltar o muro.
Fonte: Jornal NH