Atriz Ruth de Souza morre no Rio aos 98 anos

Morreu na manhã deste domingo (28/07) a atriz Ruth de Souza, de 98 anos. Ela estava internada desde o começo da semana no Centro de Tratamento Intensivo do Hospital Copa D’Or, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, vítima de uma pneumonia. A causa da morte não foi informada pelo hospital.

 

Ruth de Souza Pinto nasceu em 12 de maio de 1921, no bairro do Engenho de Dentro, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Passou a infância com a família em Porto do Marinho (MG) e, após a morte do pai, voltou ao Rio com a mãe. Viveram em uma vila de lavadeiras e jardineiras em Copacabana.

 

Interessada em teatro, procurou e se uniu ao Teatro Experimental do Negro, grupo fundado por Abdias Nascimento e Agnaldo Camargo. Foi com o grupo que, em 8 de maio de 1945, atuou pela primeira vez no Theatro Municipal, que até então só tinha recebido atrizes brancas e ajudou a abrir as portas para artistas negras no Brasil. A peça encenada foi “O Imperador Jones”, de Eugene O’Neil.

 

Na porta do hospital, familiares disseram que tentam que o velório de Ruth seja realizado no Theatro Municipal. Ainda não há, no entanto, a confirmação. “Ela merece essa homenagem da família, e os fãs também merecem, né, dar esse adeus para ela, porque a gente sabe que tem muita gente que gosta dela (…) Minha tia foi uma pessoa muito importante para a família toda. Uma pessoa de muita garra, uma pessoa que sempre deu conselhos, presente demais na família. Era tipo a matriarca da família”, declarou Midori de Souza, sobrinha-neta de Ruth.

 

MAIS DE 20 NOVELAS

Na televisão, foi uma das pioneiras. Passou pela TV Tupi, pela Record, TV Excelsior e, em 1968, Ruth de Souza foi contratada pela Globo para atuar na novela “Passo dos ventos”, onde interpretou a mãe de santo Tuiá, uma mulher sábia cujos antepassados eram escravos, no Haiti.

 

Seu último trabalho foi na minissérie “Se eu fechar os olhos agora”, que foi ao ar este ano, na Globo. Na história recriada por Ricardo Linhares a partir do romance original de Edney Silvestre, ela viveu Madalena. Idosa e abandonada, a personagem era “adotada” pelos meninos Paulo Roberto (João Gabriel D’Aleluia) e Eduardo (Xande Valois) antes de ser assassinada de forma brutal e misteriosa.

 

Filha de um lavrador e de uma lavadeira, desde criança Ruth sonhava em ser atriz. “Eu era apaixonada por cinema. Queria ser atriz, mas naquela época não tinha atores negros, e muita gente ria de mim: ‘Imagina, ela quer ser artista! Não tem artista preto’. Eu ficava meio chateada, mas sabia que ia fazer; como, não sabia”, declarou a atriz no site Memória Globo.

 

Como uma das pioneiras da TV brasileira, a atriz participou de programas de variedades e musicais no início das transmissões da TV Tupi, até adaptar para a televisão, com Haroldo Costa, a peça “O filho pródigo”, que havia encenado no Teatro Experimental do Negro. A primeira novela foi “A deusa vencida” (1965), de Ivani Ribeiro, na TV Excelsior.

 

Na Globo, a atriz atuou em mais de 20 novelas. Entre elas: “A cabana do Pai Tomás”, “Pigmalião 70”, “Os ossos do barão”, “O rebu”, “Duas vidas” e “O clone”. Em “Sinhá Moça” Ruth fez uma dupla inesquecível com Grande Otelo. Também atuou em seriados como “Memorial de Maria Moura” e “Na Forma da Lei”.

 

CARREIRA NO CINEMA

No cinema, Ruth participou de mais de 30 filmes, incluindo a versão para a telona de “Sinhá Moça”, de Tom Payne. O longa levou Ruth a concorrer ao prêmio de melhor atriz do Festival de Veneza de 1954.

 

Em entrevista ao Memória Globo, ela lembra que, por pouco, não levou o prêmio e ainda superou atrizes consagradas como Katherine Hepburn e a Michèle Morgan – Lili Palmer foi a vencedora.

 

“Era muito importante o festival, Veneza, o festival de Veneza naquela época acho que era mais importante que o de Cannes, era muito importante. E aí, quando veio a notícia de que Lili Palmer tinha ganho o prêmio e eu tinha perdido por dois votos. Dois votos… Então, a Katherine Hepburn e a Michèle Morgan ficaram para trás, ficaram em quarto lugar, não sei.. Para mim, foi como se eu tivesse ganho o prêmio, foi muito importante para a minha carreira, inclusive”, contou Ruth.

 

A atriz esteve também no clássico “O assalto ao trem pagador” (1962), de Roberto Farias, e “As filhas do vento”, de Joel Zito Araujo, com o qual foi premiada no Festival de Gramado de 2004.

 

Ruth de Souza era grande admiradora do cinema por entender que era onde o artista negro tinha mais oportunidades.

 

“O cinema sempre deu mais oportunidade para o negro, desde o Grande Otelo. Eu tive sorte na continuidade de trabalho, tanto no teatro quanto na televisão. Sempre tive trabalho, mas são poucos os negros que têm. Isso foi benção de Deus”, declarou.

Fonte: G1

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