Uso de fotos roubadas irregularmente, clonagem de números de telefones em aplicativos e até uma negociação intermediada por golpistas geram prejuízos. Especialista recomenda ‘desconfiança absoluta’ ao fazer qualquer negócio nas redes.
A alta dos casos de golpes aplicados por celulares e aplicativos exige atenção dos usuários na hora de transferir dinheiro para terceiros.
A foto do consultor imobiliário Victor Guerra Parreira foi roubada de um aplicativo de mensagens. Se passando por ele, bandidos começaram a pedir depósitos para uma conta bancária desconhecida. A irmã do consultor suspeitou, afinal, o pedido vinha de um número de telefone diferente.
“Ela me perguntou se eu tinha adquirido um novo número no meu trabalho. E eu comentei que não. Na hora já percebemos que estava acontecendo algum golpe. Na mesma hora eu já liguei pros meus familiares, meus amigos, postei em redes sociais e avisei do perigo”, contou o consultor.
Nesse caso, não houve clonagem do número e, como o Victor foi rápido, nem prejuízo financeiro foi registrado.
“Até mudei uma configuração do meu Whatsapp que não permite mais todos, qualquer contato que eu não tenha em minha agenda, estar verificando minha foto”, disse ele.
Mas nem sempre é assim. O celular da companheira da analista comercial Valda Amorim foi clonado mesmo. E com as mensagens vindo de um número familiar, ficou mais difícil desconfiar da fraude.
“Perdi R$ 821 e esse bandido ficou enchendo o saco até 2 horas da manhã, discutindo comigo, porque eu perdi a paciência, xinguei ele. Falei que iria chamar a polícia e ele falou: ‘Pode chamar, já estou preso’. E aí ficou nisso”, afirmou ela.
Não tem nada que favoreça mais o golpe que uma história que é de verdade. O golpista se apropria dela e acaba mudando um detalhe ou outro para conseguir enganar outra pessoa.
Foi o que aconteceu com o mecânico de aeronaves Daniel Marassatii. Ele foi comprar uma moto, que realmente existia, o vendedor também, mas acabou caindo em um golpe na frente do cartório.
“Eu vi a moto, testei a moto. Estava tudo certo na frente do cartório. Tudo certo para acontecer a compra e a venda. Ocorreu tudo como deveria ser. O detalhe era que por trás estava um golpista, que estava intermediando entre eu e o verdadeiro dono da moto”, lembrou o rapaz.
Os golpistas – supostos intermediários do negócio de R$ 7 mil – ficaram o tempo todo no celular com os dois. Com o Daniel, que queria comprar, e com o rapaz que queria vender, para não dar chance de conversa entre eles.
“Fiz o pagamento. Nessa que eu fiz o pagamento, convidei ele pra entrar no cartório e ele disse ‘não, estou esperando o rapaz me pagar’. Aí eu falei ‘não, não foi esse o combinado’. Foi aí que a gente conversou e vimos que estava errado. E foi tudo por água abaixo. Você se sente um lixo. Não aguentava me olhar no espelho”, desabafa Marassatii.
Atualmente não existe estorno nos pagamentos via PIX, o que dificulta para a vítima reaver o dinheiro. Mas, segundo o Banco Central, a partir de novembro, uma ferramenta, no próprio aplicativo dos bancos, vai facilitar a denúncia de golpes.
“A instituição vai fazer uma análise rápida e, se achar procedente, vai comunicar-se com a instituição onde está a conta que recebeu o recurso para que seja feito um bloqueio dos recursos. A partir daí, as instituições terão sete dias para fazer uma análise mais aprofundada e, caso seja procedente, os recursos retornarão à conta da vítima”, contou o chefe do departamento no Banco Central, Ângelo Duarte.
Enquanto isso não acontece, o jeito é se proteger, segundo orienta o advogado especialista em Direito Digital Luiz Augusto D’Urso.
“Desconfiança absoluta. Navegar na internet é como caminhar num bairro perigoso de madrugada. Você caminha em alerta, preocupado. Assim devem ser feitas negociações, transações e acordos na internet. Converse, pergunte, encontre o vendedor, veja o produto, nunca passe código. Cuide da sua rede social com muita atenção. Cuidado com links maliciosos, deixe sempre seu celular e aplicativos atualizados, porque assim você diminui a chance de cair num golpe da internet”, afirmou.
E é importante ressaltar também a importância de sempre registrar o boletim de ocorrência. Sem o boletim, a polícia não fica sabendo. E sem ficar sabendo, não tem como investigar.
Fonte: G1