Barril de pólvora nacional

Enquanto a imprensa nacional se concentra na cobertura da guerra entre Israel e o Hamas, incluindo a longa batalha entre Rússia e Ucrânia, em grandes reportagens que comovem internautas, leitores e telespectadores, nossas guerras caseiras continuam matando mais do que os principais conflitos armados.

Diferente do espaço concedido às tragédias bélicas que assolam várias regiões do mundo, retratadas por enviados especiais e com intercâmbio de imagens com as principais agências internacionais de notícias, nossos mortos pelas enchentes, pela criminalidade e pelo trânsito são esquecidos muito rapidamente, até a chegada de nova calamidade.

Para ilustrar a tragédia humana nacional, basta lembrar que, com estatísticas não confiáveis e muita subnotificação, nos últimos 10 anos cerca de dois mil brasileiros morreram vítimas das enchentes e deslizamentos causados pelas chuvas, em acontecimentos recorrentes e sempre atribuídos apenas à natureza, sem o devido socorro às vítimas e muito menos prevenção para o futuro.

Os prejuízos materiais são incalculáveis e o número de desabrigados e sem assistência, que provavelmente jamais retomarão o padrão de vida anterior, por mais humilde que fosse, é imensurável.

“…nossos mortos pelas enchentes, pela criminalidade e pelo trânsito são esquecidos muito rapidamente…”

Em outra área de enorme preocupação dos brasileiros, a criminalidade mata de forma violenta, e com requintes de crueldade, quase 50 mil pessoas todos os anos, mesmo sem contabilizar as vítimas das ações policiais que não são consideradas como criminosas, apesar das chacinas cometidas.

Nas ruas e nas rodovias, o trânsito de veículos ceifa a vida de 33 mil brasileiros a cada 365 dias, em tragédias continuadas que causam dor e sofrimento às famílias e eleva em muito o custo dos serviços hospitalares, de reabilitação e de pagamento de pensões e indenizações.

Observando os números elevados de mortos, feridos e desabrigados, a falta de prevenção ao crime, aos desastres e às tragédias do trânsito, a ausência de políticas públicas e de investimentos nas áreas mais sensíveis de proteção à qualidade de vida e à própria vida, conclui-se que vivemos em um país conflagrado pela incapacidade dos governantes.

A guerra que enfrentamos não é declarada e não merece estudos ou análises, mas é mais letal e perigosa do que a maioria dos conflitos que afligem as nações cujos noticiários fazem os brasileiros se sentirem seguros sobre o barril de pólvora que habitamos.

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Cláudio Pissolito

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