Dia das Mães: “Engravidei em segredo, e tive meu primeiro filho aos 61 anos”

Cresci em um sítio perto de Alvorada do Sul, no interior do Paraná. Minha mãe e minha tia eram professoras, e eu adorava estudar, mesmo com todos os obstáculos que havia ali. Até os 14 anos, andava mais de dois quilômetros para chegar à escola. Depois, meus pais me matricularam em um colégio melhor e me mudei para a cidade. Gastava quase 18 horas por dia, entre as aulas e o trabalho, para conseguir me manter longe de casa.

 

No restante do tempo, fazia o que mais gostava: ler. Com 18, comecei o magistério e logo passei a dar aulas em Alvorada. Chegava em casa a uma da madrugada e acordava antes das seis, mas fazia isso feliz. No ano seguinte, passei num concurso público para lecionar em Londrina. Ali, vi a possibilidade de evoluir, entrar para a universidade, fazer cursos de pós-graduação e me especializar na área que tanto queria – Ciências Sociais. Foi lá que me formei, e de lá nunca mais saí.

Minha vida foi toda dedicada ao trabalho e aos estudos. Até tive namorados, rolos e gostei de alguns caras. Mas não tinha muita paciência para levar uma relação adiante, sempre optei pela liberdade. Costumo dizer que me casei com minhas viagens, meus passeios, minha independência. Não sou de dar satisfação a ninguém, e detesto que paguem minhas contas. A relação mais longeva que vivi durou seis meses; e a última, três. E lá se vão mais de 30 anos. Por outro lado, sempre quis ter filhos. Talvez por causa do relógio biológico, com quase 50, passei a ter recordações de quando eu brincava de bonecas e de como gostava de imaginar que aquelas crianças de mentirinha eram minhas.

 

Mas sequer tinha namorado e, antes que eu levasse a ideia adiante, fui atropelada por um sonho antigo e consegui um emprego na enfermaria de um hospital. A empolgação em cuidar das pessoas foi tanta que entrei para a faculdade de enfermagem. Depois de formada, fiz outra especialização, dessa vez em perícia criminal e civil, que me abriu as portas para uma série de cursos, congressos etc. Vivia viajando em busca de mais e mais conhecimento. E acabei adiando o sonho de ter um bebê.

Em 2013, no meio de todo esse turbilhão, entrei na fila de adoção. A princípio, pensava em pegar um recém-nascido. Mas uma psicóloga amiga sugeriu que eu flexibilizasse a idade do bebê para facilitar o processo. Estipulei, então, que aceitaria crianças de até um ano, era minha única restrição. Esperava todos os dias pelo telefonema do assistente social, mas ele nunca aconteceu. Determinada a insistir no meu sonho, comecei a ler sobre fertilização in vitro.

 

Parecia loucura pensar nessa possibilidade aos 54 anos, mas estava determinada a não desistir antes de tentar tudo o que podia. Em minha busca por respostas precisas, virei noites e noites em frente ao computador. Queria entender absolutamente tudo sobre o assunto antes de tomar uma decisão. Fiz isso tudo no mais absoluto silêncio. Esse era um assunto que não cabia a mais ninguém, além de mim. Também temia que me desencorajassem, o que não seria de se espantar. Uma mulher com a minha idade planejando engravidar, ainda que com inseminação in vitro, parecia um sonho bastante improvável de dar certo.

FONTE: MARIE CLAIRE

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