“…escolas rurais eram mais democráticas e, todas públicas, recebiam filhos de fazendeiros e colonos na mesma sala…”
Até os anos de 1960 a sociedade brasileira se dividia em praticamente duas classes sociais: a urbana, com pouca prevalência, e a grande quantidade de moradores de sítios, fazendas e colônias, que formava o numeroso contingente rural. Fazendeiros, sitiantes ou simples colonos eram recebidos com muita satisfação pelos moradores das cidades que mantinham estabelecimentos comerciais e de prestação de serviços, cujos maiores consumidores eram os agricultores e lavradores, patrões e empregados. Os sábados eram de festa nas cidades, com grande procura ao comércio e a profissionais médicos, dentistas e advogados.
Nessa época, as escolas rurais eram mais democráticas e, todas públicas, recebiam filhos de fazendeiros e colonos na mesma sala, assim como as escolas urbanas atendiam desde o filho do prefeito e do juiz de direito até o do mais simples trabalhador braçal. Assim se criavam laços de amizade, de aceitação e entendimento das diferenças sociais e culturais e, principalmente, incentivava a convivência nos mesmos espaços. Mesmo com os preconceitos inerentes ao ser humano, não havia manifestações de ódio entre classes sociais e muito menos separação pela cor da pele, religião ou condição econômica.
Com o desenvolvimento econômico injusto, que privilegiou as chamadas classes dominantes em detrimento à grande maioria de mais pobres, criou-se o primeiro abismo social e econômico. A partir de então, os mais abastados passaram a manter os filhos em escolas particulares, mesmo que em outras cidades, e também a criar clubes de lazer exclusivos a seus grupos sociais, além da separação das cidades, antes pequenos conglomerados mistos, em bairros nobres e com restrições que dificultam o acesso das famílias de menor renda. Desta forma, a divisão social e econômica também se tornou territorial.
Chegado o século 21, quando a tecnologia passou a democratizar a informação, a distância entre as classes sociais e a disputa pelos espaços se acirrou, dividindo nossa sociedade em pequenas castas, incluindo a criação de clubes particulares e grupos de interesses comuns. Contudo, a mais perniciosa divisão agora é a político-ideológica, incentivada pelos partidos de esquerda e com resposta forte pela chamada direita, pois as frágeis lideranças eleitas para unir o país só souberam dividir a sociedade em grupos separados por cores, paixões e ideologias, mesmo que a maioria sequer consiga decifrar o significado das nomenclaturas.