Editorial JC – Cidadania naufragada

“…o país que se arvora como salvador do planeta não protege sequer seu próprio povo…”

Enquanto o povo brasileiro se divide entre defensores de governos da direita ou da esquerda, sem sequer conhecer e muito menos entender os conceitos definidores, uma cidade turística do Nordeste, ou melhor, uma capital de Estado, simplesmente está perdendo vários bairros em afundamento do solo causado pela mineração devastadora, liberada e até protegida pelas autoridades. Em detrimento e absoluto desrespeito à população da própria cidade, lideranças políticas e empresariais se unem em torno de uma grande empresa bilionária, sem se ater ao legado de destruição deixado pelo falso progresso.

Em mais um escândalo ambiental de proporções internacionais, o país que se arvora como salvador do planeta não protege sequer seu próprio povo das mazelas do capitalismo inconsequente, corrompedor e destruidor dos recursos naturais explorados à exaustão e ao absurdo de destruir uma cidade. Depois de mais de 10 anos de alertas de ambientalistas, sempre tratados como párias da sociedade insana e cega, finalmente os olhos e as mídias se voltam para mais uma catástrofe sem volta, sem remédio ou sequer justiça para com as principais vítimas, tratadas como meros objetos transferidos para longe de suas raízes.

O retrato mais fiel da forma de tratamento oferecida ao povo brasileiro é o de uma mulher que, depois de muitos anos de trabalho braçal para conquistar uma humilde casinha de paredes finas e telhas de amianto, a perdeu com rachaduras e ameaça de desabamento iminente. A compensação oferecida pelo nosso amado Estado Social foi uma ajuda de custo para aluguel, de 300 reais, complementada por outros 250 reais da família de 12 pessoas, em uma casa igualmente ameaçada pelas rachaduras do desenvolvimento material criado pela grande empresa de capital aberto e criadora de bilionários.

Junto com significativa parte da bela cidade de Maceió, no litoral nordestino, estão se afundando o respeito às pessoas, a proteção ao meio ambiente e, principalmente, o direito inalienável à dignidade do cidadão prevista na constituição federal que garante o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. A inviolabilidade dos direitos básicos do cidadão é a garantia de que a relação entre o indivíduo e o Estado está sendo mantida, juntamente com o Estado Democrático de Direito, mas junto com a cidade que sofre e afunda, está naufragando o direito à cidadania de muitos brasileiros

Compartilhe
Facebook
WhatsApp
X
Email

destaques da edição impressa

colunistas

Cláudio Pissolito

Don`t copy text!

Entrar

Cadastrar

Redefinir senha

Digite o seu nome de usuário ou endereço de e-mail, você receberá um link para criar uma nova senha por e-mail.