Editorial JC – Finados festivos

“…data de apelo religioso que se transforma em data de apelo festivo.”

Adotado pela igreja católica, que congrega a maioria da população brasileira, o Dia de Finados foi introduzido no calendário litúrgico no século “V” como dia de oração pelos mortos, mas apenas no século “XIII” é que foi definida a data definitiva, de 2 de novembro, que sucede ao 1º de novembro, que celebra a Festa de Todos os Santos. Esse dia importante para o cristianismo, já que várias religiões cristãs valorizam o culto aos mortos, o Finados é um dia de reflexão, silêncio e orações pelas almas dos chamados “santos defuntos”, com peregrinações aos cemitérios enfeitados como palcos de celebrações.

Mesmo como data de magnitude para a principal religião professada pelos brasileiros, o esperado “feriado” de Finados foi aos poucos superando o “dia santo” e mudando os hábitos das novas gerações que se distanciaram do conhecimento e da importância da data de apelo religioso que se transforma em data de apelo festivo. Assim, em vez de dia de recolhimento, moderação e orações pelos mortos, o Finados entrou, ainda que informalmente, no calendário turístico nacional como ideal para viagens, passeios, festas e eventos, causando grande ocupação de vagas em hotéis e pousadas com tarifas mais elevadas.

As mudanças e o menor valor religioso da data podem ser observados a cada ano pela redução continuada de público nos cemitérios e nas celebrações feitas pela intenção dos mortos, causando o esvaziamento de uma efeméride importante para o catolicismo. Ao contrário do Dia Santo quase esquecido, o feriado se torna esperado e comemorado com programações festivas e turísticas, incluindo eventos animados com músicas e regados a bebidas, contrariando assim uma tradição religiosa mantida há séculos e agora relegada por grande parte da população, incluindo os ditos católicos.

As mudanças rápidas e radicais de hábitos e costumes, que até então mantinham as comunidades mais unidas e próximas de valores transcendentais ao cotidiano de trabalho e lazer, comprovam que a evolução tecnológica e a maior independência financeira, que garante autonomia às pessoas, também as afastam de valores religiosos que dizem cultivar. O Dia de Finados festivo e de viagens é prova das mudanças verificadas na sociedade tecnológica, conectada e globalizada, muito mais afeita aos prazeres materiais do que aos valores espirituais, religiosos e de aproximação ao sagrado, agora substituídos pelo apelo do dinheiro.

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Cláudio Pissolito

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