Editorial – Política sem nobreza

“…deveria ser de domínio exclusivo dos sábios, dos iluminados, daqueles que de fato possuem o dom de liderar…”

A atividade política, identificada oficialmente com sinônimos qualificativos, como nobre arte de governar os povos, ciência ou doutrina, possui também adjetivos pejorativos, como malícia, esperteza e astúcia, indicando que a forma de atuar de cada indivíduo é que determina a maneira como é julgada dentre as muitas possibilidades. A autonomia de ação conferida aos políticos garante com que interfira em todas as atividades humanas, seja administrando recursos públicos, definindo prioridades ou criando leis que regem a vida das pessoas e dos negócios públicos e particulares, para o presente e o futuro.

Diante do valor, da importância e da abrangência da atividade política, presume-se que esta deveria ser de domínio exclusivo dos sábios, dos iluminados, daqueles que de fato possuem o dom de liderar e capazes de fazer justiça por meio de atitudes e medidas altruístas que atendam ao interesse da maioria. Entretanto, a própria democracia, em sua abrangência, prevê que haja oportunidade para todos de disputar e exercer cargos públicos, independente da qualificação, da escolaridade e da experiência, impondo apenas barreiras legais relacionadas a crimes cometidos pelos postulantes.

Como já dito pelo médico e ex-deputado Enéias Carneiro, a legislação determina que uma escola seja dirigida por um professor com formação sólida, que o trabalhador braçal seja alguém aprovado em concurso e que a direção de um veículo esteja sob responsabilidade de um motorista habilitado, mas que para ocupar cargos, como a presidência da república, não se exige sequer alfabetização plena. Portanto, em muitas situações é mais fácil o indivíduo alcançar um cargo de comando, como de prefeito, governador ou presidente, ou de legislador, como vereador, deputado ou senador, do que ser efetivo como auxiliar administrativo.

A reduzida exigência para atuar na política, assim como a impunidade trazida pelas leis criadas pelos mesmos em seus benefícios, torna essa atividade bastante interessante para os que buscam facilidades sem muito esforço, pois também não se exige produtividade e muito menos resultados. A avaliação dos políticos, feita apenas pelos votos, torna a política um objetivo mais profissional do que de idealismo, pois a remuneração é maior do que na grande maioria das profissões e os privilégios são inúmeros, o que faz com que a atividade perca muito de sua honrosa classificação de nobreza.

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Cláudio Pissolito

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