Em interrogatório por vídeo, padre investigado por atropelar suspeito de furto nega ter deixado homem sem socorro: ‘Eu não fugi’

Reportagem teve acesso ao depoimento do frei feito à Polícia Civil por videochamada no qual ele afirma que pediu a populares que chamassem a polícia; MP solicitou exame de corpo de delito para periciar gravidade dos ferimentos no atropelado.


padre Gustavo Trindade dos Santos, acusado de atropelar um homem suspeito de furtar uma igreja

O vídeo do interrogatório do padre Gustavo Trindade dos Santos, acusado de atropelar um homem suspeito de furtar uma igreja de Santa Cruz do Rio Pardo (SP), mostra que o frei negou enfaticamente que tivesse deixado o local do atropelamento sem prestar socorro ao homem.

A TV TEM teve acesso com exclusividade ao vídeo do interrogatório realizado na última quinta-feira (9) no qual o religioso, investigado por tentativa de homicídio, dá a sua versão sobre o caso registrado no último dia 7 de maio.

O padre Gustavo Trindade (esq.) foi interrogado pelo delegado Valdir de Oliveira por videochamada e acompanhado por sua defesa — Foto: TV TEM/Reprodução
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No interrogatório, que durou quase uma hora e 20 minutos, o padre diz que “não fugiu” do local e que o homem atropelado, segundo sua versão, é que teria se jogado sobre o capô do carro.

Para justificar a sua afirmação de que não fugiu do local do acidente sem prestar socorro, o padre Gustavo Trindade disse ao delegado Valdir Oliveira, que comanda as investigações, que tomou a atitude de dar a marcha à ré e sair do local em nome da segurança dele e da pessoa que o acompanhava no carro.

O padre também rejeitou a recusa de socorro a Ângelo Marcos dos Santos Nogueira afirmando que, ao perceber a presença de pessoas na rua no local do acidente, teria pedido a elas que chamassem a polícia. (Veja abaixo o momento do atropelamento)

Padre investigado por atropelar suspeito de furtar igreja é interrogado pela polícia e alega que suspeito de furto se jogou contra o carro
suspeito de furto se jogou contra o carro

Interrogatório

O religioso foi interrogado na última quinta-feira (9), após não ter comparecido à sede do Departamento Especializado de Investigações Criminais (Deic), na capital paulista, quando foi intimado pela primeira vez.

À época, o local para depoimento foi definido após o padre informar que mudou seu endereço para o convento Santo Alberto Magno, no bairro de Perdizes, na capital. Quatro dias depois de faltar ao depoimento, o padre Gustavo participou de uma missa no Santuário Nossa Senhora de Fátima, em Santa Cruz do Rio Pardo.

Mesmo assim, o inquérito policial foi concluído, mas o MP solicitou a oitiva do padre para poder avaliar melhor o caso. A Promotoria também pediu um exame de corpo de delito para periciar a gravidade dos ferimentos no atropelado.

Segundo o delegado Valdir de Oliveira, o inquérito foi novamente fechado, agora com o depoimento do padre, e enviado na última sexta-feira (10) para o MP, que ainda não se manifestou sobre o caso.

Padre é investigado por atropelar suspeito de furtar igreja em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) — Foto: Reprodução
Padre é investigado por atropelar suspeito de furtar igreja em Santa Cruz do Rio Pardo (SP) — Foto: Reprodução

Durante o interrogatório, o padre confirmou que havia terminado de celebrar um casamento, quando, na saída, escutou o alarme da casa paroquial e avistou Ângelo pulando o muro e fugindo do local.

No prosseguimento do interrogatório, o padre afirmou que ele e a pessoa que o acompanhava no carro no momento do caso pediram para Ângelo parar. No entanto, as imagens de segurança que flagraram o atropelamento mostram os vidros do carro fechados durante toda a perseguição, que foi de 1,4 km.

Em relação ao atropelamento, o frei afirmou que encontrou um caminho para fechar Ângelo, sendo que, no momento em que ele entrou na calçada para pará-lo, o suspeito do furto na igreja teria se jogado no carro. Portanto, o que estaria sendo tratado como um atropelamento não teria sido.

Quando questionado sobre por que não prestou socorro, o padre alegou que temeu a possibilidade de Ângelo estar armado e que, por isso, evitou o risco. Desta forma, ele retirou o carro e fugiu do local. O frei chegou a alegar que pediu ajuda à polícia.

Após o atropelamento, o padre contou que foi até o convento onde morava, guardou o carro, que pertence à Diocese de Ourinhos (SP), e viajou para Ribeirão Preto (SP), onde iria aproveitar o Dia das Mães e o próprio aniversário, que seria no dia posterior.

Investigação

Durante as investigações, a polícia descobriu que o frei Gustavo, apesar de habilitado, deveria ter renovado a carteira de habilitação em fevereiro de 2020.

A defesa do padre mostrou um documento da União Europeia que o autorizava a dirigir. O aceite, do tempo em que ele morava na Espanha, no entanto, não é válido em território nacional. Por esse delito, Gustavo deve responder apenas administrativamente pela CNH junto ao Detran.

O inquérito policial indiciou o padre por tentativa de homicídio qualificado. Nas duas vezes em que a polícia fez pedidos de prisão, o Ministério Público se posicionou contra e os dois pedidos de prisão preventiva contra ele foram negados pela Justiça.

Ângelo, que, segundo o boletim de ocorrência, teria furtado três moletons e uma camiseta, segue com graves sequelas do atropelamento. Ele ficou internado, a princípio, na Santa Casa de Santa Cruz do Rio Pardo e, depois, foi transferido para a Santa Casa de Ourinhos

De acordo com a sua defesa, ele se encontra em casa, sem conseguir se comunicar e andar, sendo necessário o uso de fraldas. Por conta da sua condição, a defesa pretende entrar com uma ação frente à igreja pedindo ajuda, inclusive com a retirada da queixa de furto.

Ângelo chegou a ser preso em flagrante no dia do atropelamento, mas será investigado em liberdade.

O furto

Segundo o boletim de ocorrência, o homem atropelado furtou a casa paroquial da Igreja São Sebastião arrombando uma das janelas. Ele fugiu do local levando três moletons e uma camiseta. Câmeras de segurança flagraram Ângelo furtando a casa paroquial momentos antes de ser atingido por um carro da Diocese de Ourinhos.

Após mexer nas gavetas e circular pela área, ele se dirige a um cesto, no qual se encontram algumas roupas. O suspeito remexe em várias peças, quando decide levar algumas e foge do local.

Fonte: G1

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