Parentes e amigos que foram se despedir da jovem externaram revolta pelo fato de o suspeito, Iago Lacê Falcão, continuar solto — apesar de ele ter confessado o crime e ter apontado o paradeiro do corpo à polícia.
O corpo da técnica de enfermagem Rita Nogueira, encontrada morta em uma casa abandonada em Bento Ribeiro, foi enterrado nesta quinta-feira (17).
Parentes e amigos foram ao Cemitério de Nilópolis para se despedir da jovem. Eles externaram revolta pelo fato de o suspeito, o estudante de enfermagem Iago Lacê Falcão, continuar solto — apesar de ele ter confessado o crime e ter apontado o paradeiro do corpo à polícia.
“A gente falava para ela ter cuidado para ela não ficar com problema de saúde, porque era muito plantão, quase não tinha vida. Ela escapou da Covid cinco vezes para agora esse demônio, esse covarde, fazer isso com ela”, disse a madrasta, Raquel da Silva Alves.
“Torturou ela, fez ela sofrer! O delegado de plantão, que foi omisso, tinha indícios materiais suficientes para pedir a [prisão] preventiva daquele desgraçado!”, falou, durante o velório.
Jéssica Nogueira, prima de Rita, disse que a família não está conseguindo dormir.
“Você não imagina perder alguém tão querida dessa forma, descobrir barbaridades, e no dia seguinte ouvir que o assassino que fez isso, que fez ela sofrer, estar na rua”, afirmou.
“Daqui a um mês, ninguém vai lembrar mais da Rita, e ele provavelmente vai estar fazendo outra vítima”, emendou a madrasta.
Prisão ‘desnecessária’
Mesmo após a apresentação à polícia, confissão e indicação de onde teria deixado o corpo da técnica de enfermagem Rita Nogueira, de 27 anos, o estudante de enfermagem Iago Lacê Falcão, de 26 anos, segue solto.
No registro de ocorrência, o delegado André Renato Ramos da Silva diz que não considerou necessária a prisão em flagrante porque o suspeito se apresentou espontaneamente, acompanhado de advogada, e fez uma confissão informal.
Iago se apresentou na Delegacia de Homicídios, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, no domingo (13). Ele forneceu detalhes do crime, apontou aos investigadores o local da morte, um motel no bairro de Sulacap, também na Zona Oeste, e onde teria abandonado o cadáver de Rita: em uma casa da família de Iago em Bento Ribeiro.
Ainda assim, Iago seguiu solto. A polícia informou que periciou esses locais e o carro que teria sido utilizado para transportar o corpo da vítima do local do feminicídio para a ocultação do cadáver.
A casa em Bento Ribeiro, segundo vizinhos, está abandonada há pelo menos dez anos. No local, havia lixo, restos de obra, cordas e sangue. Parentes dizem que o corpo de Rita tinha sinais de tortura. Os pés, as mãos e o pescoço estavam amarrados.
A única sanção recebida por Iago foi o afastamento do Programa de Residência em Enfermagem da UFRJ.
Iago não é considerado foragido, e investigadores aguardam laudos da perícia e outros elementos para avaliar se pedem ou não a prisão dele.
Já a defesa de Iago disse que ele se apresentou espontaneamente, e que aguarda a conclusão do inquérito para se manifestar.
A Delegacia de Homicídios informou que Iago não ficou preso porque — conforme determina a lei —, quando se apresentou, não estava mais em estado de flagrante.
O caso
Rita, de 27 anos, foi encontrada morta em uma casa abandonada, da família de Iago, em Bento Ribeiro, na Zona Norte do Rio, na noite de terça-feira (15). Segundo a família, a menina havia sido estrangulada.
“A casa estava abandonada havia mais de dez anos, ela estava lá dentro estrangulada. O enterro vai ter que ser de caixão fechado. A gente quer justiça!”, cobra Aldenice Nogueira, tia da vítima.
Imagens de segurança mostram o momento em que Iago estaciona o carro na casa da vítima na noite de domingo (13). Ela chega a ir até o carro e conversa com ele durante 30 segundos, depois sai e volta para casa. O estudante vai atrás de Rita e, depois de 1 hora e 15 minutos, os dois entram no veículo e saem.
Esse é o último registro de Rita ainda com vida. Ela foi dada como desaparecida pela família, que procurou por ela até terça-feira, quando o corpo foi encontrado.
“A notícia que causa mais revolta é que ele foi solto. A residência que ela foi encontrada é fixa da família de Iago”, ressalta o ex-noivo da vítima, Igor Ferreira.
Parentes da vítima foram até a delegacia em busca de informações e falaram aos policiais sobre mensagens que trocaram o suspeito sobre o desaparecimento de Rita.
A vítima conheceu o suspeito na Maternidade Leila Diniz, na Barra, na Zona Oeste, onde trabalhavam. Ela também era funcionária da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Nilópolis.
Rita se relacionava com Iago havia pouco mais de um mês. Antes, teve um relacionamento de dez anos com Igor, ex-noivo que ajudou nas buscas da jovem. A família acredita que Iago tenha cometido o crime por ciúmes.
“A gente não sabe nada desse cara, eu nem sabia que ela estava se relacionando com outra pessoa. Não tinha muito tempo, não. Eu acho que tinha um mês. Nem minha irmã sabia muitos detalhes. O ex dela disse que eles estavam para reatar, eles ficaram dez anos juntos, a gente acha que ele pode ter visto alguma mensagem”, conta a tia.
Em nota, a Secretaria de Saúde de Nilópolis lamentou o falecimento de Rita e disse que ela era uma funcionária exemplar e muito querida pelos colegas. A secretaria finaliza dizendo que espera que a justiça dê a devida punição ao assassino confesso.
Quem é o suspeito
Iago Lacê Falcão, de 26 anos, é estudante de enfermagem e morador de Jacarepaguá, na Zona Oeste. Em uma rede social, ele diz ter experiência com a área de saúde da mulher.
O suspeito se apresenta como presidente e membro fundador da Liga Acadêmica de Atenção Integral à Saúde da Mulher. Atualmente, diz ser monitor de Ensino Clínico de Saúde da Mulher, de forma prática e teórica.
Fonte: G1