Estudante negro denuncia colega que o impediu de entrar em elevador de faculdade: ‘Sujo e fedido não entra’

Caso ocorreu em uma universidade de Cubatão (SP). Estudante de medicina acusado de injúria racial será ouvido pela Polícia Civil.

Um estudante de medicina de 20 anos registrou um boletim de ocorrência por injúria racial contra um colega de turma, de 23, após ser impedido de entrar no elevador da universidade, em Cubatão (SP), nesta quinta-feira (26). Segundo Thiago Cassio Fuzatti dos Santos, o colega disse que ele não entraria por ser “sujo e fedido”, e negou-se a se desculpar.

A situação ocorreu na volta do intervalo entre as aulas. Thiago, que estava com amigos, tentou entrar no elevador da universidade, quando foi impedido pelo estudante denunciado. “Disse que eu era sujo e fedido, e que não deveria entrar”, conta. “Eu segurei o elevador e falei para ele pedir desculpas, que não era assim. Ele ficou dando risada, e depois de dois minutos, foi embora de escada, dizendo que eu era sujo mesmo”.

“Me senti muito humilhado. Eu só queria chegar lá tranquilo, assistir à aula e voltar para a minha casa. Denunciei na hora, vou ser médico. O princípio da ética médica é não julgar ninguém”, disse o estudante.

Estudante publicou série de desabafos em suas redes sociais — Foto: Reprodução/Instagram
Estudante publicou série de desabafos em suas redes sociais — Foto: Reprodução/Instagram

Ao G1, Thiago relatou que o episódio do elevador foi a “gota d’água” para denunciar o caso às autoridades e à Universidade São Judas Tadeu, onde ambos estudam. Os abusos verbais acontecem, segundo o jovem, desde quando os dois iniciaram os estudos, em 2019. “Ele sempre fez ‘piadinhas’ do tipo comigo, sempre com pequenos detalhes”, conta.

Entre as ofensas proferidas pelo colega, está o hábito de chamá-lo de “sujo” e “fedido”, e de dizer que Thiago “só está na faculdade por causa das cotas raciais”, por exemplo. “Quando eu vou todo vestido de preto, ele diz que estou pelado”, conta o estudante.

Ainda segundo Thiago, as ofensas sempre aconteceram pessoalmente, não tinham apoio de outros colegas, e eram direcionadas exclusivamente a ele, um dos quatro estudantes negros da turma de medicina, composta por cerca de 250 alunos.

O objetivo ao denunciar o episódio, segundo Thiago, não é necessariamente para que ele seja punido, mas sim, para que ele não repita as ações. “Quero que ele entenda que está cometendo um crime”. Após o ocorrido, quando Thiago decidiu ir à polícia, o rapaz não retornou às aulas.

Universidade

Em nota enviada ao G1, a Universidade São Judas Tadeu, onde o caso ocorreu, informou que repudia qualquer atitude discriminatória, e que acolheu o aluno após a situação acontecida no elevador do campus. Veja abaixo o comunicado na íntegra:

“A Universidade São Judas, em primeiro plano, informa que repudia qualquer atitude discriminatória realizada contra qualquer pessoa, dentro ou fora da nossa comunidade acadêmica. Sobre o fato ocorrido ontem, a instituição realizou o acolhimento imediato ao estudante e instaurou uma sindicância para apurar os fatos e tomar as providências cabíveis.

A instituição de ensino, na condição de formadora não só de profissionais, mas de indivíduos em sua integralidade, permanece empenhada no seu propósito de ampliar as vozes e a conscientização do tema diversidade e inclusão”.

G1 tentou contato com o estudante denunciado, por telefone, mas até a última atualização desta reportagem não obteve retorno.

Fonte: G1

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