Fabricante do submarino Titan optou por material mais barato para reduzir custos

Stockton Rush decidiu trocar submersível de aço por protótipo de titânio de fibra de carbono, um material mais leve, mas imprevisível

As equipes de resgate intensificaram os esforços de busca submarina enquanto enfrentavam uma corrida contra o tempo para localizar o submarino turístico de mergulho profundo em Titan, que desapareceu nas proximidades do naufrágio do Titanic com cinco pessoas a bordo.

O CEO da OceanGate, Stockton Rush, buscava reduzir os custos de fabricação e operação dos veículos subaquáticos, utilizando materiais mais acessíveis. Por volta de 2013, Rush começou a expressar publicamente sua intenção de substituir o submarino Cyclops I por um protótipo mais econômico.

O Cyclops, feito de aço, era dispendioso para operar, transportar e manter. Rush acreditava que a utilização de alavancagem e fibra de carbono, um material leve usado na indústria aeroespacial, reduziria os custos do projeto.

A ideia por trás dessa abordagem era seguir o exemplo de Elon Musk na SpaceX, usando financiamento privado para construir submarinos de mergulho profundo e torná-los acessíveis a investigadores, cineastas e exploradores, a um custo muito mais baixo, explicou Guillermo Sohnlein, ex- sócio de Rush, ao The New York Times.

No entanto, Graham Hawkes, engenheiro e especialista em submarinos que conheceu Rush, expressou arrependimento por não ter alertado o empresário sobre os riscos associados ao uso de fibra de carbono. Hawkes afirmou que esse material não era confiável, pois em um dia poderia atingir profundidades de até 3 mil metros, mas no dia seguinte poderia implodir a 2,7 mil metros. Isso ocorria devido a possíveis danos sofridos impossíveis de serem detectados.

A OceanGate começou a anunciar, em 2017, expedições aos destroços do Titanic com o submarino Titan, capaz de acomodar cinco pessoas e mergulhar oito vezes mais fundo do que o Cyclops. Os primeiros comunicados de imprensa indicavam que os turistas pagariam aproximadamente US$ 105 mil cada, um valor que correspondia ao custo ajustado pela impressão de uma passagem de primeira classe no Titanic em 1912.

Essa iniciativa causa alarme na comunidade de exploração subaquática. Em janeiro de 2018, David Lochridge, diretor de operações marítimas da OceanGate, estava compilando um relatório para alertar sobre os perigos potenciais para os passageiros.

Posteriormente, diversos especialistas participaram de um debate tenso com Rush durante uma conferência de especialistas em veículos submarinos tripulados em Nova Orleans, conforme relatado por Karl Stanley, operador de um submarino turístico em Honduras há décadas.

Logo em seguida, em março, mais de trinta líderes do setor, exploradores do fundo do mar e oceanógrafos escreveram uma carta a Rush, alertando que a abordagem “experimental” da empresa poderia resultar em problemas potencialmente “catastróficos” durante a missão ao Titanic.

Segundo Will Kohnen, chefe do comitê de veículos submarinos tripulados da Sociedade de Tecnologia Marinha, Rush ameaçou deixar completamente o grupo da indústria durante uma ligação telefônica. Em 2019, no site da OceanGate, foi mencionado que o processo de certificação era lento demais para acompanhar o ritmo acelerado de inovação da empresa. Rush chegou a afirmar que os submarinos em geral eram “obscenamente seguros” e reclamou que a indústria era cautelosa.

Em abril de 2019, Stanley e Rush realizaram um mergulho com o Titan nas Bahamas. Durante o mergulho, o veículo emitiu um som de rachadura assustadora, levando Stanley a implorar a Rush que cancelasse as expedições ao Titanic que já haviam sido anunciadas para junho.

A OceanGate cancelou os mergulhos para aquele ano, alegando que não havia obtido as permissões necessárias para uma declaração de apoio à pesquisa. Sohnlein, que atualmente reside em Barcelona, ​​na Espanha, defendeu as decisões de Rush e afirmou que os críticos não estavam familiarizados com o trabalho interno da OceanGate, o programa de desenvolvimento de tecnologia e os testes realizados. Sohnlein também destacou que Rush tinha aversão a riscos.

Fonte: O Globo

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