Família de motorista que conduziu Rainha Elizabeth II no Brasil relembra passeio da monarca: ‘História de geração em geração’

A monarca percorreu seis cidades brasileiras: Recife (PE), Salvador (BA), Brasília (DF), São Paulo (SP), Campinas (SP) e Rio de Janeiro (RJ), e em pelo menos duas delas foi acompanhada pelo motorista Antônio Ângelo Cestari, ex-morador de Barra Bonita (SP).


Entre os dias 1º e 11 de novembro de 1968, a Rainha Elizabeth II, então com 42 anos de idade e 16 de reinado, realizou a sua primeira e única visita ao Brasil. A monarca percorreu seis cidades: Recife (PE), Salvador (BA), Brasília (DF), São Paulo (SP), Campinas (SP) e Rio de Janeiro (RJ), e em pelo menos duas delas foi acompanhada pelo motorista Antônio Ângelo Cestari, ex-morador de Barra Bonita (SP).

Falecido em 2001, aos 63 anos, a família guarda com carinho as memórias daquele momento único. Para encarar a descrença de quem, a princípio, duvida do fato, Daniel Cestari, um dos 11 netos de Antônio, guarda junto às memórias materiais, como medalhas, fotografias, recortes de jornais, as boas histórias passadas de geração em geração pelos familiares.

“Meu irmão, quando estava na 5ª série, contou para a professora que o avô dele havia dirigido o carro da Rainha. A professora não acreditou e ainda zombou da cara dele. Após ele contar pra minha tia, ela foi até o colégio e levou todo o material que comprova o fato. No final, a professora pediu desculpas pra todos na frente da sala”, conta Daniel.

Antônio Cestari, que morou as últimas duas décadas de vida em Barra Bonita e constituiu família na cidade, acompanhou a Rainha Elizabeth II em Salvador e Rio de Janeiro. A honraria veio em virtude do trabalho que desempenhava como funcionário do palácio do governo de SP.

Antônio Cestari conduziu a Rainha pelas ruas de Salvador, BA — Foto: Daniel Cestari/Arquivo Pessoal
Antônio Cestari conduziu a Rainha pelas ruas de Salvador, BA — Foto: Daniel Cestari/Arquivo Pessoal

“Ele era guarda civil, na época não havia polícia civil, era intitulado como guarda civil. Costumava dirigir para o governador de São Paulo e para autoridades que visitavam o país”, revela o neto.

Apesar de ser funcionário na capital paulistana, Antônio Cestari foi designado para acompanhar a Rainha em sua passagem pela capital baiana.

A monarca chegou acompanhada do Príncipe Philip, após ter assistido aos Jogos Olímpicos, no México. Antes de ir a Salvador, a primeira parada no Brasil foi em Recife.

Na capital pernambucana, aliás, um fato inusitado marcou a estadia dela. Um apagão deixou a cidade às escuras por 25 minutos, e o almoço de boas-vindas prosseguiu à luz de velas, no Palácio do Campos das Princesas, após o casal ser recebido pelo governador Nilo Coelho (1920-1983).

Após a primeira parada, a Rainha Elizabeth e o Príncipe Philip embarcaram no Britannia, o iate real da Marinha Inglesa, e seguiram para Salvador, onde chegaram na manhã do dia 3, um domingo, e seguiram acompanhados do motorista Antônio Cestari.

Rainha Elizabeth II tinha 42 anos quando visitou o Brasil — Foto: Daniel Cestari/Arquivo Pessoal
Rainha Elizabeth II tinha 42 anos quando visitou o Brasil — Foto: Daniel Cestari/Arquivo Pessoal

Em Salvador, o casal visitou a Igreja de São Francisco, o Museu de Arte Sacra e o Mercado Modelo. Em determinado momento, o lojista Américo Oliveira Lopes furou o esquema de segurança e entregou ao Duque de Edimburgo um berimbau de presente.

“Meu avô comentava que ela era muito querida e sempre muito respeitosa com todos, não importando a suposta posição da pessoa. Foram muitos acolhedores durante a visita e tentaram se envolver com a cultura que estavam conhecendo”, revela Daniel.

Depois de Salvador, a Rainha Elizabeth II foi até Brasília. Lá, ganhou o mais inusitado presente da viagem: um casal de onças.

O presente, em nome do prefeito Wadjô Gomide (1932-2003), foi em retribuição aos cisnes reais que a Rainha doou ao zoológico de Brasília. Os felinos seguiram para Londres num voo da British United Airways.

No dia 6, a Rainha Elizabeth deixou a capital do país e desembarcou no estado de São Paulo, onde visitou, além da capital, a cidade de Campinas, antes de embarcar em direção ao Rio de Janeiro, no dia 8.

Jornais da época retrataram a viagem da Rainha Elizabeth II que sofreu com o calor do país — Foto: Daniel Cestari/Arquivo Pessoal
Jornais da época retrataram a viagem da Rainha Elizabeth II que sofreu com o calor do país — Foto: Daniel Cestari/Arquivo Pessoal

Para surpresa de Antônio Cestari, apesar de não ter acompanhado a Rainha em seu estado natal, recebeu um novo chamado para acompanhá-la. Desta vez, na Cidade Maravilhosa, onde prontamente aceitou o convite.

“Depois de SP, ele foi chamado para acompanhá-la no Rio. Eu acho que o fato dele fazer o seu trabalho, sendo sempre o mais discreto e profissional possível, fez com que ele fosse escolhido”, contam os familiares de Antônio Cestari.

De acordo com o neto Daniel, o perfil sério e profissional de Antônio escondia não apenas o sentimento de admiração pela monarca, mas também o nervosismo pela escolha.

“Ele era profissional ao extremo e tratava com naturalidade e profissionalismo os seus passageiros. Ele se sentiu lisonjeado em dirigir para uma figura de tamanha importância, mesmo isso fazendo parte da rotina dele. Por ser reservado ele pouco falava para os outros, porém, minha avó sempre comentava e ainda hoje, se orgulha em contar a história para os filhos, netos, bisnetos e amigos da família”, revela.

Rainha Elizabeth II pelas ruas do Rio de Janeiro — Foto: Daniel Cestaria/Arquivo Pessoal
Rainha Elizabeth II pelas ruas do Rio de Janeiro — Foto: Daniel Cestaria/Arquivo Pessoal

No Rio de Janeiro, além de visitar alguns pontos turísticos da cidade, como a Praia de Botafogo, o Mirante Dona Marta e o Outeiro da Glória, a Rainha Elizabeth II ainda assistiu a um desfile improvisado de Carnaval, com passistas e ritmistas da Estação Primeira da Mangueira, na Embaixada do Reino Unido.

No domingo, dia 10, um verdadeiro encontro real. No Maracanã, ao lado do marido, a Rainha da Inglaterra assistiu ao jogo entre as seleções paulista e carioca. Após a partida, o primeiro encontro entre Pelé, o Rei do Futebol, e Elizabeth II, a Rainha da Inglaterra.

No dia seguinte, encerrando a visita, o casal real embarcou no Galeão, rumo ao Chile.

Rainha Elizabeth II e Rei Pelé, em 1968, quando se conheceram pessoalmente no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/Instagram Pelé
Rainha Elizabeth II e Rei Pelé, em 1968, quando se conheceram pessoalmente no Rio de Janeiro — Foto: Reprodução/Instagram Pelé

Para Daniel, o fato de seu avô ter sido testemunha ocular dessa viagem carrega um enorme simbolismo para a história de sua família.

“Todos na época tinham conhecimento da importância da rainha, porém não era possível dimensionar o quão importante ela seria para o mundo. Para nós da família, sempre foi e será motivo de orgulho saber que nosso avô, esteve tão perto de uma figura tão importante para a história”, diz.

Como parte dessa lembrança, a família Cestaria guarda as medalhas condecoradas ao Antônio pelo serviço prestado à coroa britânica. Além disso, as memórias continuam presentes não apenas por meio de fotografias e reportagens da época, mas, sobretudo, para além do que é material.

“Saber que lhe deram a responsabilidade de conduzir a majestade enche nosso coração de alegria. Meu avô se foi há algum tempo, mas deixou sua marca na história da família Cestari. Vamos contar essa história de geração em geração e guardar com muito carinho todas as lembranças que temos”, relata Daniel.

Família Cestari, de Barra Bonita (SP), guarda com carinho visita da Rainha Elizabeth II ao Brasil — Foto: Daniel Cestari/Arquivo Pessoal
Família Cestari, de Barra Bonita (SP), guarda com carinho visita da Rainha Elizabeth II ao Brasil — Foto: Daniel Cestari/Arquivo Pessoal

Fonte: G1

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