Rapaz de Santos, no litoral paulista, passou a integrar plataforma digital que, por meio de textos, forma um grande memorial sobre vítimas do novo coronavírus
Após o pai morrer com Covid-19 aos 76 anos, o publicitário Gustavo Fontes Rodrigues, de 43, resolveu se tornar voluntário em uma plataforma digital que presta homenagem a pessoas que morreram em todo o país pelo novo coronavírus. Natural de Santos, no litoral paulista, ele escreve de forma poética a história dessas pessoas, mostrando que nenhuma delas deve ser considera apenas mais um número.
O projeto, chamado “Inumeráveis”, busca mostrar que as vítimas da doença são mais que estatísticas, são pessoas que têm histórias e famílias. “Acho uma ação muito bonita. Como não sou médico, nem cientista, essa é a forma que tenho de ajudar de alguma forma. É algo feito para manter viva a memória dessas pessoas. Recebemos a planilha da família com os escritos sobre a pessoa e damos um ar lírico e poético em cima do que eles escreveram. É bem legal”, conta.
Rodrigues é filho único e há anos mora em São Paulo. Como a mãe faleceu ano passado e o pai tinha algumas comorbidades, resolveu levar ele de Santos para a Capital. Conforme relata, como o pai não queria morar na casa em que o publicitário vive com a família, eles optaram juntos por uma clínica de repouso, em janeiro deste ano.
Em plataforma que faz homenagem a vítimas da Covid-19, filho escreveu texto emocionante sobre o pai — Foto: Reprodução/Inumeráveis
Pedro Rodrigues ainda estava lúcido e, no fim de abril, em um domingo, a dona da clínica liberou a visita, porque o idoso estava chateado de não ver o filho. “Na hora, achei ele bem caído. Estava com dor nas costas e febre. Bateu a preocupação, só que, até então, só sabíamos que ele estava com uma infecção urinária. Porém, depois do dia da visita, ele piorou muito, se sentia muito cansado. Na quinta-feira, ele teve que ir ao hospital, fez diversos exames e foi constatado que era coronavírus. Ele e outras três pessoas da clínica pegaram, mas não sabemos como. Pode ter sido por uma funcionária assintomática ou por meio da comida”, diz.
O idoso foi internado e faleceu no dia 5 de maio, pela manhã. “Foi tudo muito rápido. Já não tinha vagas para os hospitais do plano dele, e ele acabou indo para uma unidade parceira. Eu não pude visitá-lo, ele ficou isolado. Apenas um dia antes dele morrer, a médica permitiu que eu o visse, porque ele já estava bem ruim , no quarto e sedado. Sabíamos que seria muito difícil por ele já ser do grupo de risco e ter a saúde debilitada. Tanto que, quanto ele foi internado, já estava com o pulmão 60% comprometido”, afirma.