Fogo assassino – José Renato Nalini

            Dentre as ocorrências que certamente constarão do cardápio das mudanças climáticas neste ano e nos próximos, estão as secas prolongadas. Elas oferecem todas as condições para que tenhamos incêndios florestais como os que já aconteceram em Portugal, no Canadá e, mais recentemente, no Chile.

            Uma conjunção de condições desfavoráveis prepara um cenário propício para a destruição. Altas temperaturas, ventos fortes, baixa umidade do ar e alta densidade populacional em biomas com plantações florestais.

            Imagine-se o pavor dos moradores em Valparaíso, lugar tão aprazível do nosso vizinho Chile, assim como Viña Del Mar. Foram quatro focos de incêndio, o que é bastante estranho, a indicar que possam ter sido intencionais. Os chilenos falam na combinação 30-30-30: menos de 30% de umidade relativa do ar, temperatura acima dos 30ºC, ventos com mais de 30 km/horários.

            Ali se comenta que as áreas atingidas foram alvo de expansão urbana recente e que os serviços públicos, notadamente a infraestrutura, não acompanharam o mesmo ritmo de ocupação.   

            Em São Paulo, no período das secas, principalmente lá pelo mês de agosto, é comum verificar a ocorrência de incêndios às margens das rodovias. Motoristas ou passageiros que atiram bitucas acesas e dão causa a destruição em locais já desprovidos de mata nativa e em difícil fase de regeneração.

            Aquilo que acontece no vizinho pode acontecer conosco também. O Chile é país da nossa América do Sul, com IDH superior ao nosso, PIB mais favorável a eles do que a nós. População mais educada. Integra o grupo de nações confiadas à colonização espanhola, que tiveram Universidade já no século XVI, enquanto a nossa é uma criação do século XX.

            A condição dos desvalidos no Brasil é muito pior do que no Chile. É importante que na adoção de providências de mitigação e adaptação com vistas às irreversíveis mudanças climáticas, leve-se em consideração a vulnerabilidade de ocupações precárias, muito mais suscetíveis à combustão do que as glebas urbanizadas de acordo com as normas edilícias.

*José Renato Nalini é Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.

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