Língua mortífera

Cláudio Pissolito

A pandemia do Coronavírus, do modelo novo, traz muitos experimentos, estudos e declarações contraditórias de especialistas do desconhecimento.

Entre muitas conclusões, dúvidas, certezas, incertezas e achismos, sempre aparecem os chatos falantes revelando detalhes daquilo que muito interessa ao conhecimento inútil e pouco acrescenta ao saber universal.

Entre tantas contribuições relevantes para o domínio pleno das formas de proliferação do vírus virulento, surgiram jovens japoneses com uma câmera de elevada resolução, coisas deles mesmo, cuja lente especial é capaz de acompanhar os movimentos dos resíduos dos espirros, das tosses e até, vai saber, do refluxo gástrico.

Algo absolutamente horroroso e aterrorizante, feito para a humanidade se desanimar de seus semelhantes, principalmente os de olhinhos puxados e de notas elevadas nos vestibulares.

Segundo a observação dos estudiosos dos movimentos flutuantes do espaço aéreo doméstico, público ou do trabalho, as gotículas que saem das bocas e das narinas em direção ao espaço vazio à volta do indivíduo lançador do líquido biológico estão sempre repletas de vírus e bactérias, residentes ou invasores das vias respiratórias.

O autor do jato venenoso pode ser o sujeito mais feio e imundo do mundo como a mocinha mais bela e asseada do planeta, pois o líquido fétido voador pode ficar em suspensão por longo tempo, como fosse Zepelins minúsculos carregados de sujeira ameaçadora.

A filmagem da câmera indiscreta e porca mostra que o alcance do arremesso depende da compleição física de quem aciona o gatilho bucal ou nasal por qualquer motivo, e são muitas as causas, com saldo de mais de 40 mil gotículas infecciosas atiradas no ambiente externo já comprometido pelas milhares de gotículas alheias.

Em cálculo simplista rápido, apenas numa conversa amistosa entre três amigos, com duas tosses, um espirro e um pigarro, atinge-se saldo de mais de 160 mil gotículas infecciosas, todas suspeitas de transportar as mais variadas formas microscópicas de espécies quase vivas e ameaçadoras de muitas mortes.

O mesmo estudo mostra que o arremesso infecto pode alcançar até dois metros de distância, três de altura e fazer com que os materiais flutuantes permaneçam horas na atmosfera fedorenta, levados pelas falsas aragens refrescantes que os inocentes costumam inspirar com imensa satisfação. A brisa do mar jamais será a mesma depois desses japoneses insensíveis.

E as gotículas grotescas não são apenas aéreas ou voadoras, pois já se provou, com as mesmas lentes indiscretas, que elas também permanecem nas mais variadas superfícies, planas ou convexas, lisas ou ásperas, frias ou quentes, à espera de uma célula humana para liberar um invisível microrganismo acelular infeccioso que possa, biblicamente, crescer e se multiplicar.

Portanto, não se trata de simples gotículas inocentes, mas sim de hospedeiras silenciosas e pacienciosas para expelir o vírus mortal.

Para agravar a constatação, sabe-se que as células preferidas dos vírus são justamente aquelas existentes nas regiões das mucosas humanas encontradas nas áreas mais sensíveis da constituição física, indicando que o vírus deve ser considerado absolutamente constitucional, pois impregna-se e identifica-se com nossa constituição multicelular.

Dentro da legalidade viral, deve-se lembrar que as mucosas são conjuntos celulares que funcionam como cobertura final dos corpos e dos órgãos humanos e que revestem as cavidades úmidas como narinas, ouvidos, boca e até os intestinos, entre outros, é claro.

Diante desta verdade incontestável, verifica-se que a contaminação não se dá apenas pelos espirros e tosses, mas também pelos toques dos abraços e apertos de mãos sem álcool em gel, tornando-se complicador ainda maior das relações humanas ainda amistosas.

Diante do terror das lentes japonesas, do conhecimento adquirido sobre a duração, velocidade e meios de locomoção do vírus matador e de suas regiões de preferência para proliferação, estamos todos demasiadamente preocupados com os cumprimentos sociais tradicionais ou obrigatórios.

Com absoluta irresponsabilidade, ninguém alerta para o inominável risco daqueles que fazem a absurda multiplicação da transmissão do vírus pelas trocas abundantes de variadas secreções quando se relacionam explicitamente com demonstrações de afeto, carinho e amor. Os mais perigosos são aqueles que se beijam na boca, seja o beijo de selinho ou o mais terrível e fatal deles, o beijo babado de língua molhada.

O autor é jornalista e mantém o Blog do Cláudio Pissolito hospedado no site jornaldacomarca.com.br

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