Késia e o marido Thiago são de Pompeia (SP) e há 3 anos usam as redes sociais para mostrar os prazeres e desafios com os filhos. Nesta quinta-feira é comemorado o Dia Nacional da Adoção.
Segundo o dicionário, o significado da palavra adoção é a “aceitação legal de uma criança como filho”, mas para o casal Thiago e Késia Hashimoto, é muito mais que isso. Há três anos, a família aumentou com a chegada de três filhos, de 4, 5 e 8 anos.
Moradores de Pompeia (SP), os dois estão juntos há mais de 8 anos e contam que o desejo mútuo de aumentar a família veio após apenas 10 meses de casados, depois de um passeio com amigos.
“Estávamos em um sítio com uma família que estava comemorando um aninho da filha (…) e naquele dia acendeu o desejo de nos tornarmos pais. Eu falei: gata, acho que está na hora de encomendarmos o nosso filho, né?”, lembra Thiago.
A partir daí, foi mais de um ano de tentativas sem sucesso. Procurando ajuda médica, receberam o diagnóstico de azoospermia. Uma notícia que abalou o casal. “A gente entende que o processo natural da vida é ser criança, crescer, se casar e ter filho. Quando aconteceu isso, a gente ficou meio sem chão”, conta Késia.
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Thiago e Késia viram na adoção a porta para a parentalidade — Foto: Arquivo Pessoal
Mesmo com o difícil diagnóstico, o desejo de parentalidade ainda rondava o casal. Conversando sobre o assunto, eles descobriram um antigo desejo em comum: a adoção. Quando mais jovem, Késia tinha apadrinhado uma criança em um abrigo, assim como Thiago, que apadrinhava uma criança africana.
“Quando veio esse diagnóstico, a gente ainda falou assim: ah, mas ainda tem a adoção. Mas, até então para a gente era um ‘plano B’”, conta Késia.
Mesmo com o diagnóstico de infertilidade e a decisão mútua pela adoção, Késia e Thiago ainda demoraram quatro anos para pensar novamente em ter filhos, também durante um passeio com amigos que tinham filhos.
“Nós nos casamos em 2014, o diagnóstico veio em 2016 e em 2019 nós fomos passear com amigos, que estavam com a bebê deles. O Thiago começou a carregar o carrinho e ele falou: acho que está na hora de encomendar um amiguinho para ela”, conta Késia.
A partir dali, o casal tomou a decisão de entrar para a fila de adoção.
A adoção
Um dos campos que precisam ser preenchidos no processo de adoção é o do perfil: idade e quantidade de crianças. Thiago e Késia são fotógrafos, e já tinham experiências com crianças de todas as idades por conta das festas infantis em que trabalhavam.
“Essa parte foi engraçada, nós íamos em festas infantis e eu perguntava para as crianças: qual sua idade? Para ter uma noção de até qual idade a gente dá conta”, afirma Thiago.
O perfil escolhido pelo casal foi de uma criança de até 5 anos de qualquer lugar do Brasil. Mas isso mudou depois de assistirem o filme “De Repente Uma Família”, que conta a história de uma casal que adota três irmãos: uma já adolescente e outros dois com mais de 5 anos.
“No final do filme, eu olhei pra Késia e falei: já que a nossa família vai crescer, vamos crescer de uma vez?”. Foi ai que eles decidiram mudar o perfil da criança e incluir a possibilidade de adotar até 3 irmãos.
Mais rápido que o planejado, por conta do perfil abrangente, no dia 4 de dezembro de 2019, com apenas 12 dias no sistema, a assistência social de Campo Grande (MS) entrou em contato com o casal. Um trio de meninos com 4, 5 e 8 anos se encaixava com o perfil descrito pelo casal. E uma semana depois o telefone tocou de novo e três irmãos de São Paulo, uma menina e dois meninos, também batiam com o perfil. O casal tinha 24 horas para decidir em qual processo seguir.
“Esse foi o momento mais difícil do nosso processo da adoção. A gente sabia que dar continuidade no processo significava dizer não ao outro grupo de irmãos.”
Thiago e Késia foram recomendados por amigos que já tinham passado pelo processo de adoção a não pedirem foto das crianças, para não criarem laços antes mesmo de prosseguirem com o processo. Porém, sem consentimento do casal, a comarca de Mato Grosso do Sul encaminhou uma foto dos meninos para Késia.
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Késia recebeu a primeira foto trio de irmãos de Campo Grande (MS) por e-mail — Foto: Arquivo pessoal
“Na hora que eu olhei os olhinhos todos puxadinhos e eu falei: nossa, são meus! É a cara do pai!”, lembra Késia, já que Thiago tem ascendência oriental.
De casal a pais de três
Enquanto a maioria dos pais tem os 9 meses meses de gestação para se prepararem para a chegada dos filhos, Thiago e Késia tiveram apenas 47 dias entre o início do processo para adoção dos meninos de Campo Grande e a ida deles para casa, no interior de SP. O primeiro encontro foi registrado e aconteceu no MS.
As camas foram feitas pelo próprio casal, mas a lista só aumentava: material escolar, roupas, calçados. Foi aí que uma enorme ação em comunidade começou. “Começava a chegar gente aqui em casa com presente que a gente nem conhecia”, lembra Késia.
Segundo o casal, eles não adotaram sozinhos. Família, igreja, amigos, comunidade todos apoiavam a história. E finalmente, após 4 dias de integração em Campo Grande (MS), no dia 24 de janeiro de 2020 Antônio, Ivo e Marcelo estavam no novo lar.
‘Mãe Sem Neura’
“Os primeiros dias foram muito tranquilos. Na adoção, no primeiro momento tem o lua de mel: da mesma maneira que nós queríamos passar nosso melhor para eles, eles também queria passar o melhor deles para a gente.” conta a mãe.
Os três primeiros meses foram de adaptações até o trio se sentir efetivamente em casa.
“Foi só com o tempo que eles perceberam que ali era o lugar deles mesmo. Eles começaram a colocar os medos, os traumas deles para fora, e ai começaram as rejeições, regressões, mas tudo isso por eles entenderam que aqui é o lugar para eles se abrirem e serem que eles eram.”
Com essas situações, Késia resolveu abrir seu perfil do Instagram, que antes servia para mostrar o processo de adoção para família e amigos de longe, a toda comunidade. O objetivo era criar uma rede de apoio para famílias que estão passando por esse processo.
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Através das redes sociais, Késia e Thiago apresentam o dia a dia da adoção “sem neura” — Foto: Instagram / Reprodução
“A gente queria que as pessoas de longe pudessem acompanhar o processo. Então antes da chegada dos meninos, preparação do quarto, da casa, a gente já estava começando a mostrar (…) e aí foi tomando outra forma o negócio, tomando outra proporção. E aí entramos de cabeça para ajudar outras famílias do Brasil. Hoje a gente recebe vários depoimentos, acompanhamos algumas famílias durante o processo inclusive durante a adaptação”, explica.
Adotar no Brasil
O processo de adoção é gratuito e deve ser iniciado na Vara de Infância e Juventude mais próxima de sua residência.
A idade mínima para se habilitar à adoção é 18 anos, independentemente do estado civil, desde que seja respeitada a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida.
Nas comarcas em que o novo Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento tenha sido implementado é possível realizar um pré-cadastro com a qualificação completa, dados familiares e perfil da criança ou do adolescente desejado.
A documentação exigida está prevista no ECA, mas pode ser que, dependendo do estado, outros documentos sejam pedidos, por isso é importante entrar em contato com a unidade judiciária local para saber tudo que é exigido. Mais detalhes estão disponíveis no site do Conselho Nacional de Justiça.
Fonte: G1