A maior seca já registrada no Brasil está afetando diretamente diversas regiões do país, com municípios enfrentando até 158 dias consecutivos sem chuva. Segundo um levantamento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a situação é mais crítica no norte de Minas Gerais, onde dez cidades estão há quase seis meses sem precipitações. Além disso, outros 14 municípios mineiros também estão sem chuva há 157 dias.
A seca extrema não se limita a Minas Gerais. Estados como Bahia e Goiás também estão enfrentando longos períodos sem chuva, com boa parte do Centro-Oeste, Norte, Sudeste e Nordeste do Brasil sem precipitação por mais de 120 dias.
Em entrevista ao Globo, a pesquisadora do Cemaden, Ana Paula Cunha, destacou que essa situação anômala tem ampliado a área afetada pelo clima seco, levando uma secura intensa para regiões onde a vegetação e o solo não possuem resiliência para suportar tais condições.
“O padrão de chuva zero fora do semiárido por tantos meses é completamente anômalo”, afirmou Cunha. Segundo ela, o fenômeno climático expõe a vegetação e o solo a um ciclo vicioso: sem umidade suficiente, não chove, e a falta de chuva agrava ainda mais a secura do solo.
Mesmo com a previsão de uma frente fria que deve levar chuva para os estados do Sul, como Rio Grande do Sul e Santa Catarina, na próxima semana, essa trégua será breve. Tércio Ambrizzi, coordenador do Núcleo de Apoio à Pesquisa em Mudanças Climáticas (Incline, na sigla para Inter-disciplinary Climate Investigation Center) da USP, explicou que as frentes frias, que são a principal fonte de chuva nessa época do ano, têm sido fracas e mais oceânicas, afetando pouco o interior do país.
A seca recorde está sendo impulsionada por um conjunto de fatores climáticos, incluindo o aquecimento excepcional do Oceano Atlântico, que tem bloqueado a entrada de umidade no Brasil desde o ano passado. Segundo Marcelo Seluchi, coordenador de operações do Cemaden, apenas a chegada da estação chuvosa poderá reverter a situação, mas ainda há incerteza sobre quando as chuvas consistentes voltarão.
O impacto da seca também é agravado pela degradação ambiental. O desmatamento e a perda de vegetação nativa em Minas Gerais, por exemplo, estão contribuindo para o aumento das temperaturas e a redução da umidade, piorando as condições climáticas.
A expansão do semiárido no estado é uma realidade crescente, como destacou Cunha: “O semiárido está se expandindo na porção norte de Minas, e há uma tendência clara de aumento”.
Fonte: DCM