As campanhas eleitorais de grande parte das cidades brasileiras terão como foco a questão do abastecimento de água que, junto aos demais serviços relacionados ao saneamento básico, deixa muito a desejar quanto à quantidade, à qualidade e até mesmo à oferta do chamado líquido precioso.
No país que detém a maior reserva de água doce do mundo, com 12% dos estoques conhecidos, o abastecimento das populações ainda pode ser considerado insuficiente, desigual e precário, com mais de 30 milhões de pessoas sem acesso ao bem essencial à vida, à boa alimentação e à higiene, indicando nosso atraso histórico.
Segundo estudos técnicos confiáveis, 80% da água doce existente no Brasil se concentra na região hidrográfica amazônica, com a seguinte divisão: 70% na região norte, 15% na região centro-oeste, 6% no sudeste, 6% no sul e 3% no nordeste, em distribuição desproporcional em comparação às populações.
Diante da dicotomia entre concentração de água e concentração da população, soma-se a péssima infraestrutura de captação, tratamento, armazenamento e distribuição, mais o desperdício do mau uso e pelas perdas causadas pelo sistema obsoleto e sem os investimentos necessários.
“…o abastecimento das populações ainda pode ser considerado insuficiente, desigual e precário…”
Não obstante à complexidade do atendimento das populações espalhadas em um país continental, cuja grande maioria se concentra nas regiões litorâneas, distantes de nascentes e dos principais aquíferos, o tema de grande relevância é ainda discutido de forma bastante superficial, com propostas de construção de reservatórios e perfuração de poços.
Entretanto, não basta investir em reservatórios sem haver reservas naturais, e muito menos em poços, rasos ou profundos, quando o subsolo está explorado à exaustão e também poluído pela falta de controle das perfurações e pelo uso de agentes químicos nas lavouras.
Como nossas campanhas eleitorais acontecem justamente entre o inverno e a primavera, quando as chuvas se reduzem, os rios perdem volume e as águas subterrâneas quase desaparecem, o tema do abastecimento de água se transforma em bandeira política com propostas e promessas mirabolantes e inviáveis, que servem apenas para cabalar os votos dos mais incautos.
Afinal, a discussão sobre a água deve focar a proteção às nascentes, a regulação e a tarifação do uso industrial e da agricultura e na criação de áreas públicas e particulares de infiltração das águas pluviais, e não nas promessas dos milagreiros de ocasião.
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