‘De cada 5 pacientes que vão para a UTI, um paciente não volta para casa’, afirmou o diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas
Embora haja uma pressão sobre o sistema de saúde da rede pública em São Paulo, ainda há unidades de terapia intensiva para tratar casos de covid-19, afirmou o médico Paulo Menezes, que chefia a Coordenadoria de Controle de Doenças da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.
Atualmente, a taxa de letalidade da covid-19 no estado é em torno de 8%, com 4.315 óbitos entre os 54.286 casos diagnosticados.
“E não foi por falta de leito de UTI, porque isso não está acontecendo no estado de São Paulo. É porque a cada dia que passa nós entendemos que o vírus é mais agressivo do que parecia no início da pandemia, a gente vai compreendendo mecanicismos de como o vírus ataca diferentes sistemas. Hoje, está ficando claro que a infecção causa uma doença sistêmica e não só uma doença pulmonar”, disse Menezes em entrevista coletiva nesta quinta-feira (14).
A grande preocupação do comitê de médicos que assessora o governo do estado é que as mortes e sequelas da doença são inevitáveis, mesmo quando há hospitais. Por isso, a necessidade de diminuir o contágio enquanto não há uma vacina.
“De cada 5 pacientes que vão para a UTI, um paciente não volta para casa”, disse o diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, Luiz Carlos Pereira Júnior.
Atualmente, a taxa de ocupação das UTIs destinadas a pacientes com covid-19 na Grande São Paulo é de 85,5%, enquanto no resto do estado é de 69%.
“A gente está mesmo em uma corrida contra o tempo [para abrir novos leitos]. Para quem é essa boa notícia de que nós temos cada vez mais leitos de UTI? Para os amigos, para os parentes, para os filhos daqueles que precisam ser intubados e mantidos em ventilação mecânica. É para eles que essa notícia é boa. A melhor notícia mesmo para todos nós seria não precisar destes leitos de UTI”, acrescentou.
O médico ainda afirmou que, além dos óbitos, há um percentual de pacientes que recebe alta com sequelas.
“De cada dez pacientes, quatro estão evoluindo para insuficiência renal. Desses pacientes que vão receber alta, alguns deles vão precisar continuar fazendo diálise, alguns deles vão ter ainda sequelas pulmonares.”
Nas últimas semanas, a taxa de isolamento social no estado tem ficado em torno de 47%, abaixo dos 55% desejáveis e muito longe dos 70% considerados ideais para frear a curva de casos.
O coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus, Dimas Covas, fez um alerta sobre esses dados.
“O panorama dessa taxa de isolamento hoje aponta para uma piora desses indicadores: número de casos, número de mortes, que é uma consequência do número de casos.”
Segundo Covas, esse aumento da mobilidade vai começar a se refletir em novos casos nas próximas semanas.
“O índice de isolamento é uma medida indireta da taxa de transmissão de vírus, da taxa de contágio. Quanto mais elevado, menor a taxa de contágio. Quanto menor, maior a taxa de contágio.”
De acordo com o médico, todo o esforço feito no início das restrições impostas pelo governo, em março, será perdido se as pessoas voltarem a circular com maior intensidade.
FONTE: R7