Novas cidades

A concepção arquitetônica urbana que originou a grande maioria das cidades brasileiras repete um modelo mantido há mais meio milênio e que se mostra absolutamente ultrapassado para as atuais circunstâncias habitacionais, de negócios e para a população, mas principalmente para o clima que apresenta mudanças radicais.

O primeiro exemplo são as ruas pavimentadas, antes consideradas como medida de conforto contra o barro e a poeira, e que se transformaram e inimigas das cidades ao impedir a infiltração das águas pluviais causadoras das grandes enchentes que trazem destruição e mortes.

O maior aproveitamento das áreas urbanas, que visa o lucro com as construções menores e mais concentradas, hoje é a principal causadora do desconforto às pessoas pelo excesso de calor e a falta de circulação de ar entre os prédios, o que exige a instalação de equipamentos para refrigeração forçada.

A ausência de espaços livres nas moradias, como os grandes quintais de antigamente, estão fazendo falta como áreas de lazer, obrigando as famílias a se confinarem em cômodos pequenos e fechados, pouco arejados e com bastante desconforto térmico que dificulta até mesmo a convivência harmoniosa.

“…águas das chuvas em calhas e caneletas para direcionamento para as ruas, fazendo aumentar as enxurradas…”

A redução das calçadas, os chamados passeios públicos, que também podem abrigar redes de água, esgoto, internet e energia elétrica, junto com o aumento da violência urbana e a redução das árvores ornamentais e frutíferas, causaram o distanciamento entre vizinhos e amigos que usavam os espaços para convivência e até mesmo para confraternização. 

O aumento das áreas cobertas em residências, estabelecimentos comerciais e industriais são causadores do acumulo das águas das chuvas em calhas e caneletas para direcionamento para as ruas, fazendo aumentar as enxurradas cada vez mais fortes e destruidoras.

Junto às medidas de mais aproveitamento dos espaços particulares, também os espaços públicos estão se reduzindo e, em vez de áreas de praças gramadas e muitas árvores, o que se constata é a pavimentação dos pisos com mais cimento e o uso de grandes áreas para estacionamento de veículos.

Sem entender que cada medida adotada para facilitar a vida das pessoas serve para piorar a qualidade das cidades cada vez mais inóspitas, os projetos mantém as práticas adotadas no passado, sem observar o presente modificado e muito menos o futuro que está exigindo novos conceitos para a criação de novas cidades.

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Cláudio Pissolito

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