O arroz, as joias e o mecanismo

A série televisiva O Mecanismo, criada por José Padilha e estrelada por Selton Mello, inspirada nas investigações da Operação Lava Jato, expôs de forma clara as entranhas da corrupção e da criminalidade infiltradas no sistema político-administrativo nacional.

Desde então, o termo Mecanismo passou a designar o arcabouço político-institucional brasileiro, desde sempre dirigido pelas elites econômicas e sociais e eivado de subterfúgios para proteger o poder e os poderosos, em detrimento ao interesse público e àqueles que não transitam o mesmo sistema.

A mesma Lava Jato, considerada como um marco na história do judiciário brasileiro ao, pela primeira vez, indiciar, julgar, condenar e prender figurões da política, é desmontada pelo mesmo Mecanismo retratado na ficção, mas que se provou absolutamente ativo e operante na realidade.

Considerando que o Mecanismo é um instituto abstrato, mantido e operado de forma tácita apenas pela coincidência de privilégios e interesses, fica clara a participação de lideranças de todos os poderes e instituições pública e privadas, notadamente aqueles com poder econômico, de decisão ou de persuasão.  

“…mesma Lava Jato que puniu colarinhos brancos hoje se assenta no banco de réus pela vingança do Mecanismo…”

Pelo Mecanismo estão unidas as muitas famílias que se sucedem no poder legislativo e executivo, cujos sobrenomes são conhecidos tanto pelo poderio do dinheiro como pelas colunas policiais, que por sua vez são ligados às corporações que prestam serviços ao Estado Brasileiro, em todas as suas instâncias, assim como a muitos daqueles que fiscalizam, investigam e punem os malfeitos.

Sob o manto da irmandade secreta unida pelos interesses individuais e de grupos, forma-se a rede de subversão de valores e de cooptação de privilégios pela prática da malversação ao erário em favor do sistema mantido desde sempre.

Não por acaso, a mesma Lava Jato que puniu colarinhos brancos hoje se assenta no banco de réus pela vingança do Mecanismo que jamais aceitou a inversão da lógica que garante o sobrepreço de obras mau executadas, o pagamento de propinas a contratantes, o crescimento das vantagens a quem ocupa escalões elevados e a manutenção do sistema de eternização dos privilégios.

O sepultamento da Lava Jato, que deveria ser aprimorada, é feito por aqueles que negociam joias no exterior, que fazem compra de arroz de empresas fantasmas e que modificam a constituição para evitar a ressurreição de juízes e promotores interessados em fazer a justiça valer para todos.

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Cláudio Pissolito

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