O crescimento dos antivacinas no Brasil

Vacina | Pixabay

Por Natalia Pasternak

O movimento antivacinas nunca teve presença forte no Brasil. A população brasileira sempre confiou nas vacinas, e levar os filhos ao posto de saúde para receber as doses previstas no calendário anual sempre foi atitude tão corriqueira quanto levá-los à escola.

Um programa nacional de imunizações de excelência garantiu, durante os últimos 50 anos, que o país não sofresse os impactos do negacionismo de vacinas com a mesma intensidade dos Estados Unidos e Europa.

Recentemente, no entanto, o cenário começou a mudar. Em novembro de 2020, a primeira associação brasileira deliberadamente antivacinas fez sua assembleia inaugural.

A Associação Brasileira de Vítimas de Vacinas e Medicamentos (Abravac) consolidou-se formalmente em fevereiro de 2021. Seu site exibe a estratégia típica do negacionismo: depoimentos assustadores de supostos efeitos adversos, especialistas que não são levados a sério pela comunidade cientifica falando sobre os perigos da vacinação, discurso obscurantista disfarçado de defesa das liberdades individuais e disseminação do medo.

Políticos farejaram um novo nicho, e na gestão do ministro Marcelo Queiroga o negacionismo virou política pública de saúde. A desinformação sobre vacinas no Brasil hoje vem de fonte oficial. O presidente da República e ministros disseminam o medo e a desconfiança.

Vacinas infantis são o alvo mais fácil. Os mercadores da dúvida sabem que pais e mães com filhos pequenos são vítimas fáceis de incerteza e angústia. Afinal, uma coisa é um adulto decidir se vacinar e assumir para si os possíveis riscos associados. Outra coisa é decidir em nome de uma criança.

Calcular riscos envolvendo a saúde de nossos filhos traz um medo de errar muito grande. A tentação de optar por não fazer nada é enorme: se a vacina trouxer algum problema, quem mandou aplicar se sente culpado. Se a criança, não vacinada, ficar doente, pode-se dizer que a culpa é do acaso, ou do destino.

Isso é o que chamamos, em comunicação de ciência, de viés de omissão. É compreensível, mas errado: não vacinar não é deixar as coisas nas mãos da Providência, é escolher expor a criança a um risco muito maior do que o trazido pela vacina.

O resultado do apelo sinistro à insegurança dos pais já aparece. Diversos municípios no Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul já reportam números abaixo do esperado de crianças vacinadas.

Estabelecido o movimento antivacinas, agora com apoio do Estado, só informar não basta. Pais e mães precisam ser acolhidos, suas incertezas respeitadas ao mesmo tempo em que tentamos debelá-las, e o movimento antivacinas, desconstruído. Isso envolve entender como está organizado no Brasil, e não apenas ficar reverberando nas mídias sociais que vacinas são legais. Campanhas precisam ser organizadas pelos estados e municípios, e os propagadores do negacionismo devem ser expostos e punidos, inclusive os infiltrados no governo federal, alinhado a uma ideologia de extrema direita que disfarça ignorância, machismo e racismo como “liberdade individual”. Quanto tempo até que a confiança em todas as vacinas infantis seja abalada?

O ano eleitoral de 2022 traz uma oportunidade para o exercício da cidadania do brasileiro: a oportunidade de cobrar dos candidatos uma posição perante o negacionismo científico. Não apenas cobrar investimento em ciência, mas cobrar o respeito à ciência nas políticas públicas. É o momento de perguntar para o seu candidato: qual o seu plano para restaurar as campanhas de vacinação? Para restabelecer o PNI? Para fortalecer o SUS? Para conter o desmatamento e promover agricultura sustentável? A ciência ocupou o debate público nos últimos dois anos, em pé de igualdade com economia e política. Não vamos permitir que seja novamente jogada para escanteio.

NATALIA PASTERNAK

Microbiologista, presidente do Instituto Questão de Ciência, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e autora do livro “Ciência no Cotidiano” (ed. Contexto)

FONTE: O GLOBO – BLOGS O GLOBO

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