O emprego na mecanização

“…os rendimentos não eram suficientes para curar as doenças adquiridas pelo esforço prolongado…”

 

A longa discussão travada no começo da década sobre o projeto do então governador Geraldo Alckmin, de proibir a queimada da cana-de-açúcar em território paulista, tinha como principal argumento contrário o provável desemprego de milhares de trabalhadores que se submetiam a condições precárias. Eram horas a fio debaixo de sol escaldante, em meio à fuligem, transportados em veículos sucateados, sem usar sequer sanitários e vestidos como espantalhos humanos para enfrentar o calor e animais peçonhentos e comendo marmitas vencidas. Esses eram os empregos que muitos demagogos ou desavisados acreditavam defender.

O mantra repetido era que cada máquina colhedora substituiria ao menos 80 chefes de família, sem, contudo, lembrar que os rendimentos não eram suficientes para curar as doenças adquiridas pelo esforço prolongado, pois quase todos morreriam à míngua em corredores ou enfermarias de hospitais igualmente sucateados. Outro argumento era que o novo sistema criaria enorme convulsão social, como se vivêssemos em paraíso de paz, conforto, segurança, boa educação e com saúde de qualidade, pois não se enxergava a condição de trabalho quase escravo não reconhecido pelos sindicatos interessados na pífia contribuição das hordas de explorados.

E, assim, contra as opiniões dos especialistas de ar condicionado, dos sábios engravatados em automóveis de luxos e dos líderes milionários das redações das grandes empresas de comunicação, em 2014 foi iniciado o processo de supressão das criminosas queimadas que poluíam e deixava o caos como ambiente de trabalho para os mais pobres. As primeiras máquinas chegaram, ainda com tecnologia experimental, mas imediatamente passaram a exigir ao menos quatro operadores para os turnos de 24 horas, todos com salários e capacitação muito superiores. Depois chegou a vez dos transportadores, dos mecânicos, dos borracheiros, dos torneiros e dos fornecedores de combustíveis.

Nas indústrias com mais encomendas foram contratados muitos outros profissionais nas novas linhas de montagem, assim como a área comercial e técnica de pós-venda necessitaram de reforços. A fabricação de máquinas exigiu mais componentes de aço, ferro, borrachas e elétricos, além do próprio minério necessário às estruturas, criando novas e mais dignas profissões. Hoje, provavelmente, cada máquina fabricada ou em uso ocupa mais de 100 trabalhadores capacitados e mais bem remunerados.

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Cláudio Pissolito

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